O evento internacional que vai mobilizar milhares de pessoas, não tem sido debatido entre os candidatos a prefeito
Por Misto Brasil – DF
De tanto ver e ouvir a sigla COP30 no hotel onde trabalha, no centro de Belém, no Pará, Gilvane Souza resolveu pesquisar seu significado na internet.
Moradora do bairro de Guamá, na periferia da cidade, ela trabalha há uma década como faxineira no prédio que tem sido usado para reuniões da organização da conferência, registrou Vinícius Mendes, da Agência DW.
“Não sabia que a gente estava tão importante assim”, dizia ela há um mês, entre a jocosidade e uma constatação bastante popular de que o estado fica esquecido no mapa social do Brasil.
“Mas, para falar a verdade, não entendi até agora o que é essa COP. Só sei que vão falar sobre a floresta lá”, continuava.
Em novembro de 2025, a capital paraense receberá a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP).
Será a primeira vez que ela acontecerá, neste formato, no Brasil.
Por isso mesmo, os investimentos têm sido altos: em torno de R$ 4 bilhões entre recursos do governo federal e acordos tributários com empresas, como a mineradora Vale, por exemplo.
Especialistas ouvidos pela DW apontam que essa distância que boa parte da população mantém da COP30 se refletiu na campanha eleitoral de Belém. Quase todos concordam que isso foi, antes de tudo, uma estratégia política – e acertada.
“Os candidatos sabem que a maioria do eleitorado não tem ideia do que é COP. Para eles, não faz sentido investir tempo e dinheiro em um assunto sem retorno nas urnas”, diz Marco Antônio Lima, professor de Desenvolvimento Socioambiental na Universidade do Estado do Pará (UEPA).
“E, quando esse assunto apareceu nos debates na televisão ou mesmo nas ruas, não foi para dar protagonismo ao evento, mas para apontar alguma obra que está sendo feita somente por causa dela”, completa Ivan Costa, do Observatório Social de Belém (OBS), espécie de ONG que opera em várias outras cidades do país.
De fato, embora o próximo prefeito assuma o cargo às vésperas da COP30, em janeiro, as candidaturas decidiram focar nos velhos problemas da cidade, como coleta de lixo e infraestrutura, do que em apontar caminhos para a cidade a partir da conferência.
“Não houve uma palavra sequer sobre soluções que podemos oferecer, como uma cidade amazônica, aos desafios das mudanças climáticas“, lamenta Vanusa Santos, que coordena um grupo de pesquisa sobre meio ambiente na Amazônia na Universidade Federal do Pará (UFPA).
“O olhar para floresta, a partir do seu potencial de desenvolvimento sustentável, também não foi explorado. É tudo o que será pautado pela COP.”