Texto de João Pedro Pereira
A primeira fotografia no Instagram foi publicada a 16 de Julho de 2010, quando a aplicação só estava disponível para um grupo muito selecionado de pessoas. O protagonista é um cão, deitado. Mas também se vê um pé, enfiado num chinelo. A imagem tem um filtro, claro, e o pé é da então namorada do mais conhecido fundador da empresa, Kevin Systrom.
Ainda hoje aquela publicação recebe comentários. Algumas pessoas limitam-se a escrever a data e a hora, registando assim o momento em que interagiram com aquele marco na história do Instagram. É o equivalente digital a gravar o nome num centenário banco de jardim.
Nos primeiros tempos, o Instagram era uma aplicação simples, desenvolvida por uma equipe pequena e em que todas as fotografias eram, obrigatoriamente, quadradas.
Hoje, é uma enorme rede social, que deu origem a novos hábitos de compartilhamento. Glorificou a disseminação de imagens aperfeiçoadas com filtros, transformou uma horda de utilizadores em fotógrafos assíduos (às vezes, obsessivos), empenhados em captar cenas do quotidiano, de viagens e da natureza, recantos da arquitetura urbana ou os momentos em que nos põem a comida à frente. Aumentou o estrelato de algumas celebridades e fez nascer do zero novos “influenciadores”.
Atraiu a atenção de marcas desejosas de chegar a milhões de consumidores, especialmente aos mais jovens. Recentemente, parece estar a emergir como uma alternativa mais privada ao compartilhamento frenético que o Facebook encorajou durante anos.
Este mês, o Instagram anunciou a marca de 1 bilhão de usuários — é muito mais do que redes sociais como Twitter (330 milhões) e o Snapchat, um rival direto que permite a partilha efêmera de imagens e que tem 166 milhões. O Facebook tem 2,2 bilhões.
“É uma questão de apelo visual versus o apelo do texto. O Instagram é para fotos e vídeos, e os millenials e a geração Z cresceram a ser fotografados e filmados”, explica ao Público a acadêmica Pavica Sheldon, professora na Universidade do Alabama, nos EUA, e autora do livro Social Media: Principles and Applications (“Media sociais: princípios e usos”).
Sheldon refere-se a duas gerações que já cresceram com acesso a tecnologias de informação modernas, as que nasceram sensivelmente entre 1980 e 2000. “Outra razão é que os pais e os avós estão no Facebook. De acordo com os adolescentes, esta é uma rede para pessoas velhas”, acrescenta, repetindo uma observação frequente ao longo dos últimos anos.
Comprado pelo Facebook em 2012, o Instagram tornou-se também um componente importante do negócio e da estratégia da maior rede social do mundo. Tem sido uma arma do Facebook para combater rivais, especialmente o Snapchat, que viu algumas das suas funcionalidades serem replicadas no Instagram (e também no Facebook e no WhatsApp, outra das aplicações compradas por Zuckerberg).
E está ainda sendo usado para testar novas abordagens: este mês, anunciou a IGTV, uma espécie de televisão online, com a qual espera rivalizar com o YouTube (os vídeos publicados na IGTV também podem ser partilhados no Facebook).
O Instagram representa cerca de 16% das receitas publicitárias do império online de Mark Zuckerberg, de acordo com uma estimativa da analista eMarketer. Já um relatório da agência Bloomberg, publicado na última semana, indica que o Instagram valeria 100 bilhões de dólares (86 bilhões de euros) se fosse uma empresa autônoma — é 100 vezes mais do que o preço que o Facebook pagou por ela.
A aplicação, acrescenta o relatório, está atraindo utilizadores a um ritmo muito mais rápido do que o Facebook. Também chega a uma demografia mais jovem e, ao contrário do Facebook, ainda está crescendo nos EUA, um mercado onde normalmente cada utilizador vale mais dinheiro quando se trata de vender audiências a anunciantes.
Há muitos motivos para o Instagram ser a rede social do momento. E não foi preciso um caminho muito longo para chegar até aqui.
(João Pedro Pereira trabalha no Público, de Portugal)