Ao contrário do que supõem os políticos em seus gabinetes, para o Brasil mais perigosa do que as fake news é a própria realidade, pior do que aquelas falsas notícias.
Vivemos um período extremamente delicado, que corresponde à temporada pré-eleitoral.
E a notícia real, que não é fake news, frise-se, é que o governo, antes mesmo de ter resolvido por completo a questão do diesel, aumentou o preço da gasolina, nomeou para a presidência da Petrobras o diretor financeiro responsável pela execrada política de preços da estatal e anunciou essa substituição durante o pregão da Bolsa de Valores.
Temos de um lado, portanto, a incompetência e a leviandade levadas a extremos que não afastam a possibilidade de dolo.
De outro, temos reivindicações legítimas, grevistas autônomos e de boa-fé, infiltrados por empresas praticantes de lockout e grupos políticos radicais visando abalar as instituições, conforme denunciado pelo próprio líder dos caminhoneiros autônomos.
O preço da gasolina continua crescendo sobre usuários não sindicalizados, mas cuja força se demonstrou em 2013.
Nada mais perigoso do que uma greve sem comando, pois não há com quem dialogar e negociar.
O conjunto desses grupos e, talvez, qualquer um deles isoladamente, nos deixaram claro que têm o poder de estrangular o tráfego rodoviário do país e promover um desabastecimento que leve as pessoas ao distúrbio civil e ao desforço físico.
No que tange ao tráfego, em tese e aos trancos e barrancos é possível desatar o nó, como se fez pagando o preço do óleo com o sangue da saúde, da educação e dos programas sociais.
Nunca pensar em reduzir os juros ou o chamado serviço da dívida, neste governo os bancos valem mais do que vidas humanas.
O desabastecimento é ainda mais grave do que o congestionamento, pois mesmo sob intervenção, produções agropecuárias não crescem sob ameaça, têm o seu próprio ciclo.
Isto posto, percebe-se que se as eleições estivessem marcadas para este mês, as condições atuais impediriam materialmente a sua realização.
Daí a excepcional delicadeza do período que vivemos e irá até as eleições gerais.
E é a razão pela qual não se pode descansar, daqui até outubro, na manutenção da harmonia e da ordem, para que não falte eleição, apanágio da democracia e da República, e para que se possam garantir os direitos dos eleitores, o acesso às urnas e a lisura da apuração, em um mundo no qual, além de tudo mais, até a eleição dos presidentes está e esteve sujeita à interferência de hackers, para quem a segurança da justiça eleitoral, brasileira ou não, é pouca diante das fortalezas estatais e empresariais que já conseguiram enfrentar e vencer.
Ganha assim atualidade a frase que hoje, como sempre, outorga a nós, o povo, o compromisso de não esquecer que “O preço da liberdade é a eterna vigilância.”