Todos os dias, pela manhã, à tarde e à noite, enfrento som alto, gritos desesperados e barulho de pesos caindo no chão. Este é o meu cotidiano e o de meus vizinhos.
Moro em São Luís do Maranhão, num bairro chamado Renascença, numa rua próxima a um grande supermercado. Exatamente atrás de minha casa, construíram um box de Crossfit extremamente barulhento. Por isso, fiz uma denúncia, com um abaixo assinado dos vizinhos corajosos que se atreveram a reclamar do incômodo causado.
Anexei as assinaturas à denúncia e as encaminhei à Promotoria do Meio Ambiente de São Luís do Maranhão, há cerca de praticamente um ano. Juntei provas, situações, dei entrada de forma correta. Nada mudou. Não tenho nem mesmo ânimo para ir novamente ao prédio do Ministério Público — que, vejam só, recebeu o nome de minha avó, primeira promotora aprovada em concurso público no estado do Maranhão, Aurora Correia Lima Felix — ver em que situação está o processo.
Começo a entender que a Justiça é para poucos. Talvez para os poucos que têm dinheiro, poder e amigos influentes. A Academia Tabajara, cujo Box de Crossfit fica na Rua das Limeiras, exatamente atrás da minha casa, ao lado de outra casa, em frente a outra e próxima a outras tantas, continua a fazer barulho e seus clientes continuam e ocupar indiscriminadamente calçadas, estacionando em frente a saídas de garagens, impedindo o trânsito normal na rua onde se situa e realmente atrapalhando e constrangendo dezenas de moradores, a maioria idosos.
Mas, quem liga para isso, se o dono da Academia é amigo de figurões da política, do Ministério Público, do empresariado e de advogados renomados? Não é assim que funciona?
Também entrei com um processo na Justiça Estadual, por danos. Até agora, nem sombra da possibilidade de audiência. Imagino o quanto de tráfico de influência, de sujeição, de corrupção e de desrespeito não está correndo no mar de lama que passa sob a ponte que poderia nos tornar a todos cidadãos com os mesmos direitos e deveres, inclusive o de obedecer a leis que protegem o pagador de impostos de sofrer abusos sonoros e de outra ordem logo que esteja em sua casa.
Tenho tido experiências lamentáveis com a Justiça e também compreendo que não é à toa que o brasileiro está revoltado e se sente aviltado quando vê o topo da cadeia alimentar do serviço público agir como se vivesse no País das Maravilhas.
Quando o STF, a mais alta corte do país, ignora acusações graves contra compadres influentes, está apenas mostrando como é o modus operandi da Justiça em escalas menores e localizadas. Quando a multidão quer linchar um estuprador e pedófilo, em lugares muitas vezes humildes, é porque cada pessoa ali revoltada, em sua simplicidade, sabe que a Justiça é inócua, ineficiente, distante, lenta, elitista e injusta.
A solução, uma vez que a Justiça é indiferente à injustiça, é conviver com o crime, a infração, a quebra de códigos de conduta, o desrespeito. Tenho muita fé de que a eleição do presidente Jair Bolsonaro foi um grande passo para mudar o Brasil. Mas sei que a mudança, em algumas áreas, virá a passos de tartaruga.