Criado em 1961 e referência em pesquisa e exploração espacial, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) vive novo momento de convulsão. A situação de agora retrata bem o estado atual da política ambiental no Brasil.
Para relembrar, em 2019, o então diretor do órgão, Ricardo Galvão, pesquisador renomado internacionalmente, foi exonerado após polêmica com o presidente Jair Bolsonaro e com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Na época, o governo não aceitou a divulgação de dados, pelo INPE, que atestavam aumento no desmatamento da Amazônia. Galvão deixou o cargo atirando.
Agora, dois eventos simultâneos mostram que a situação é quase caótica no órgão. A coordenadora-geral de Observação da Terra, Lubia Vinhas, foi afastada sem explicação. Detalhe – ela perdeu o cargo três dias após seu departamento divulgar dados apontando novos recordes de desmatamento na região.
Além disso, técnicos do INPE divulgaram carta na qual afirmam existir uma estrutura paralela no órgão. Segundo eles, essa estrutura teria incluído a verticalização e a unificação de comando, bem ao modo militar. Não por acaso, o atual diretor-interino, Darcton Damião, é oficial da Aeronáutica.
Em resposta, o vice-presidente Hamilton Mourão, que comanda o Conselho da Amazônia, disse não saber os motivos da exoneração da servidora. Ele afirmou ainda que, quando existem nuvens, “os satélites que monitoram a região podem ficar um mês sem ver nada e, assim, o estrago pode parecer maior quando a situação é normalizada”. Informação insuficiente, dado ser do conhecimento geral que os índices de desmatamento vem batendo sucessivos recordes há meses.
Mourão, por sinal, falará ao Senado Federal sobre as ações do governo para enfrentar o problema. A pressão sobre o Planalto aumenta a cada dia.
Por falar em pressão, o ministro Salles está com a cabeça a prêmio. Pouco eficiente no comando da pasta, ele vê os pedidos para seu afastamento definitivo aumentarem a cada dia – e quem pede são investidores estrangeiros e empresários, entre outros, que ameaçam aplicar duras sanções ao Brasil caso a situação não mude.
O imbróglio em torno do INPE é um sinal importante do descaso do governo Bolsonaro com relação ao meio ambiente. A única possibilidade de mudança real no cenário seria um boicote geral aos produtos brasileiros. Algo que não está longe de acontecer.