Na Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), a eleição no próximo dia 27 de setembro para a diretoria e conselho fiscal é assunto para poucos. A própria entidade é uma caixa de surpresa quando o assunto é sucessão ou orçamento.
A entidade é muito poderosa, mas do mesmo modo que é influente na economia do Brasil, seu estatuto preserva a manutenção do poder.
A CNC tem à disposição neste ano R$ 8 bilhões, a metade do que dispõe, por exemplo, o estado do Espírito Santo para tocar toda a máquina pública. A CNC forma o Sistema Confederativo da Representação Sindical do Comércio, o Sicomércio, que mantém sob sua jurisdição o Sesc e o Senac, duas entidades pioneiras do Sistema “S”, integrado também pelo Sesi, Senai, Sebrae, Senar, Sest, Senat e Sescoop.
A Confederação é um exemplo do chamado “pelego sindical”. O atual presidente está há 38 anos no cargo, ou seja, desde 1980, sempre reconduzido ao cargo graças a um esquema estatutário que se espalha nos estados.
Antônio Oliveira Santos quer fazer seu sucessor na presidência, como ocorre nas repúblicas das bananas. Seu afilhado político é outro exemplo de liderança pelega. José Roberto Tadros está na Federação do Comércio do Amazonas há 36 anos. É uma resistência de fazer inveja a políticos de quatro costados, mas que se beneficia de um sistema sindical atrasado.
Nas próximas eleições, o presidente da Confederação do Comércio do Sergipe, o deputado federal Laércio Oliveira (PP), aparece como uma alternativa à oposição. Difícil será convencer os eleitores a mudar o sistema arcaico. São apenas 28 votantes. A CNC é um caso que se assemelha à Confederação Brasileira de Futebol, onde a transparência é nula, mas os personagens sempre são os mesmos.
Dos 28 votos, 27 representam federações estaduais do comércio. O outro voto reúne a opinião de sete federações nacionais como a Fenacon (Federação Nacional das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas). Neste caso, há uma guerra jurídica que se desenvolve no Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 10ª. Região (Brasília) para que cada federação tenha direito a um voto. Assim, seriam 34 votos, e não 28.
A CNC representa os interesses de 34 federações patronais (27 estaduais e sete nacionais) e 1.035 sindicatos. Como o comércio representa 40% das empresas brasileiras e que mais empregam (9,2 milhões de pessoas), dá para perceber como o sistema eleitoral da classe está invertido.
Mas para que candidato da oposição possa concorrer na CNC, Laércio Oliveira terá que primeiro vencer as eleições na federação do seu estado. Eleito presidente, poderá se habilitar como candidato na Confederação, que permite a reeleição por tempo indeterminado. No caso do Sergipe, o estatuto só permite uma reeleição para mandatos de quatro anos.
Aluno do Senac em 1977, Laércio Oliveira acredita que pode alterar o jogo. Hoje, estaria empatado em 14 votos para cada um dos candidatos. Para ele, o papel atual da Confederação é subalterno. “É reconhecimento geral que o modelo criado no âmbito do Estado Novo foi se tornando obsoleto com o passar dos anos e com a mudança das estruturas econômicas, o que impede qualquer tentativa de manutenção das ações até então vigentes”, observa.