Papai Noel às avessas

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Aprés Carlos Drummond de Andrade

Os Jograis de São Paulo tinham como pièce de résistence de suas apresentações o poema, que recitavam, de Carlos Drummond de Andrade:

Papai Noel às Avessas – Poema de Carlos Drummond de Andrade

Papai Noel entrou pela porta dos fundos
(no Brasil as chaminés não são praticáveis),
entrou cauteloso que nem marido depois da farra.
Tateando na escuridão torceu o comutador
e a eletricidade bateu nas coisas resignadas,
coisas que continuavam coisas no mistério do Natal.
Papai Noel explorou a cozinha com olhos espertos,
achou um queijo e comeu.

Depois tirou do bolso um cigarro que não quis acender.
Teve medo talvez de pegar fogo nas barbas postiças
(no Brasil os Papai-Noéis são todos de cara raspada)
e avançou pelo corredor branco de luar.
Aquele quarto é o das crianças
Papai entrou compenetrado.

Os meninos dormiam sonhando outros natais muito mais lindos
mas os sapatos deles estavam cheinhos de brinquedos
soldados mulheres elefantes navios
e um presidente de república de celulóide.

Papai Noel agachou-se e recolheu aquilo tudo
no interminável lenço vermelho de alcobaça.
Fez a trouxa e deu o nó, mas apertou tanto
que lá dentro mulheres elefantes soldados presidente brigavam por causa do aperto.

Os pequenos continuavam dormindo.
Longe um galo comunicou o nascimento de Cristo.
Papai Noel voltou de manso para a cozinha,
apagou a luz, saiu pela porta dos fundos.

Na horta, o luar de Natal abençoava os legumes. 

Após tantos anos de enganação e estelionato político contra o povo brasileiro, o que se pede neste Natal é um Papai Noel verdadeiro, que dê ao Brasil uma segunda chance, assegurando os que ainda trabalham e abrindo perspectivas para os que estão afastados de sua atividade.

Um Papai Noel que dê ao País um momento de trégua para que pense na sua própria grandeza e se engaje com empenho na construção do futuro que suas riquezas ensejam.

Uma pausa em que se afastem os escândalos maiores e os personagens menores e Papai Noel nos garanta, para 2019, os frutos da revolução pelo voto que a Nação acaba de realizar.

Um Papai Noel que faça desta a mãe de todas as festas.

É o que se pode pedir no momento, evitando a um só tempo a depressão e a pieguice e fazendo um esforço no sentido do futuro para que em outros natais seja possível escrever uma crônica clássica sem ter, através de alternativas como a presente, fugir de uma mensagem irrealista e pouco convincente.

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