Confete, pedacinho colorido de saudade, era a música e o papel festivo que saudava as moças nos bailes de carnaval do britânico Automóvel Clube de Minas Gerais, nas festas em seu esplêndido Salão Dourado.
Mas às jovens mais bonitas e às que mais se destacavam, pela alegria e animação, como Cau, a foliã de que me recordo já nestas primeiras linhas, estavam reservados, mais do que coloridos, confetes dourados, uma premiação alegre e descontraída da mocidade.
Ela e seu par, Tê, associam-se sempre às minhas lembranças de tantos carnavais.
Era a época do corso, do desfile em carro aberto, pela Avenida Afonso Penna, trocando os desfilantes serpentinas e entrudo, com o público que se aglomerava, tudo ao som das marchas de carnaval, naquela época ainda novas, marcadas por um ritmo cadente e mais lento, como se sonorizassem o ritmo da vida tranquila daquela época.
Nós, meninos, éramos levados por minha mãe Maria do
Carmo e minha avó Anita, aos bailes vespertinos em que se descontraíam os jovens foliões, com guaraná e biscoito champagne, o drink oficial da meninada.
Era o tempo do lança-perfume, Rodoro, em recipiente fechado e numa caixa de três exemplares, com que meu pai Fernando nos premiava ao início das festas de carnaval.
Até hoje penso no Rodoro como lembrança de uma espécie de tesouro cobiçado pelos jovens, com seu esguicho frio e etéreo, que tanto podia acariciar e refrescar como fazer arder os olhos e acabou proibido porque passaram a cheirá-lo.
Uma das mais famosas balizas dos blocos e escolas de samba de então era Geraldina Cruz, uma bonita afro-brasileira que tinha no coração a beleza da sua aparência.
O Carnaval e com ele a música, talvez até por causa desta, passou a associar-se a tudo que podia ser agradável, e na minha memória se misturam prazerosas lembranças de composições carnavalescas ou não, mas todas ressaltando o talento e a alma brasileiros.
Dentre as carnavalescas, ouvi certo dia que “aquele azul não era do céu, nem era do mar, foi um rio que passou em minha vida e meu coração se deixou levar.”
É até hoje a minha predileta e tive esta semana o privilégio de assistir em Belo Horizonte a Paulinho da Viola, imponente em sua simplicidade e para quem o tempo não passou, apenas aperfeiçoou a voz e o ritmo magníficos, que empolgaram mais uma vez a plateia mineira.
Do outro gênero de composições, tenho mais do que admiração verdadeiro carinho pelas “Rosas Não Falam”, que me remetem ao grande médico Lauro Sollero, que trazia a letra no bolso, para não arriscar-se a um erro quando a fosse cantar.
Recordar é viver e ao rememorar os carnavais antigos lembro às gerações de hoje que construam com apreço as memórias que terão no futuro da festa que nestes dias estão vivendo.
Quando a Estrela D’Alva no céu desponta, como todos nós a lua fica mesmo tonta com tamanho esplendor.