É altamente simbólico o fato de que, em pleno dia de seu aniversário, Brasília tenha sido atingida por uma tempestade de proporções bíblicas. Mas o estrago por ela causado não se deu por acaso ou simples acidente.
Há tempos a capital federal vem sofrendo diversos reveses, mas não se engane – tudo está interligado.
Primeiro falemos dos eventos políticos. Boa parte dos ex-governadores foi envolvida em escândalos de corrupção e alguns deles inclusive acabaram na prisão. O mesmo ocorreu com outros políticos locais, igualmente com sérios problemas com a Justiça. Isso explica o descaso de parcela significativa da população para com seus representantes.
A palavra “descaso”, por sinal, explica muito do que acontece com a estrutura física local. Viaduto em área central que desaba, buracos sem fim pelas vias, prédios públicos em condições lamentáveis. Houvesse seriedade com o planejamento e sua execução, a cidade estaria em outras condições. A corrupção também tem forte participação nesse quesito.
Os serviços públicos também estão em condições críticas. Para citar apenas dois exemplos, saúde e educação foram praticamente deixadas de lado pelas últimas administrações. A população, é claro, paga a conta.
A tempestade de domingo último gerou aquelas que podem ser consideradas as imagens emblemáticas do que ocorre com Brasília – o alagamento da UnB. A universidade, das melhores do país, por pouco não sucumbiu às águas e ao vento. Agora é calcular os prejuízos e reparar os estragos.
É evidente que a cidade cresceu muito ao longo do tempo e boa parte de sua infraestrutura não comporta o atual número de habitantes. Isso não justifica, porém, o caos registrado.
Há 59 anos, a “capital da esperança” era inaugurada, trazendo sonhos e orgulho para todos os brasileiros. Que, ao comemorar 60 anos em 2020 esse quadro seja retomado.