Sete anos antes de integrar a equipe econômica que formularia o Plano Real e acabaria definitivamente com a alta descontrolada dos preços no Brasil, Gustavo Franco se debruçou sobre as causas e os efeitos da hiperinflação alemã. Mais precisamente sobre o período que foi da década de 1920, durante a República de Weimar, até a recuperação após a Segunda Guerra Mundial.
Quando defendeu sua tese de doutorado em Harvard, mal sabia que essa experiência o gabaritaria anos depois a identificar semelhanças e diferenças na inflação brasileira. “No Brasil, a hiperinflação não deixou um trauma como deixou na Alemanha, onde as consequências da inflação vão bem além dos efeitos econômicos diretos”, compara.
No mês em que o real completa 25 anos de circulação, o ex-presidente do Banco Central do Brasil (1996-1998) e um dos mentores da moeda brasileira, afirmou em entrevista à DW Brasil que, na prática, o plano brasileiro é uma cópia do modelo alemão “pela metade”.
Na Alemanha dos anos 1920, tentou-se uma experiência com duas moedas simultaneamente: o Reichsmark, que desvalorizava pela inflação alta, e a Rentenmark, que se mantinha estável. A população adotou no dia a dia a moeda mais estável, que permitiu o controle da inflação no país.
Tal experiência inspirou a criação no Brasil da Unidade real de valor (URV), que vigorou de março a julho de 1994, enquanto também existia o cruzeiro real (CR$). Ocorre que apenas esta última era usada para pagamentos, e a URV vinha estampada nos produtos como referência ao “preço real”. A URV era atrelada ao dólar, portanto estável, enquanto o CR$ mudava diariamente por conta da inflação. Com a entrada em vigor do real, em julho de 1994, o real (R$), a URV e o CR$ foram extintos.