Texto de Noemí Araújo
Sinceramente, duvidei do cenário que está se desenhando. Somada ao fator pandemia, a economia americana registrou a maior contração histórica além da maior taxa de desemprego em mais de 80 anos. No entanto, a retórica conservadora de Donald Trump: nacionalismo, protecionismo, imigrantes, relações raciais e religião, revelavam ainda um grande apoio daqueles que não o culpam pela pandemia e celebram sua gestão.
Mas, parece não ser suficiente. Está sendo uma disputa acirradíssima, deixando os ânimos mundiais à flor da pele; e, ainda pode levar dias. Antes mesmo de finalizada a contagem de votos, Biden se tornou o candidato democrata mais votado da história dos EUA, ultrapassando os 70 milhões de votos, superando Obama, em um sistema no qual o voto não é obrigatório e o voto popular não significa, necessariamente, uma vitória.
Há tanto para se falar sobre o que esse resultado significa para o mundo, em tantas áreas e níveis, mas essas eleições nos permitem visualizar e criar expectativas, principalmente, no que se referem às mulheres americanas e, espero, às brasileiras. Bem verdade é que com uma bem plausível mudança de postura no comando da nação, e por mais que as relações sejam feitas de Estado para Estado e não para governo (sabemos que isso não funciona na prática), a expectativa é de uma mudança de postura dos EUA para com o Brasil, principalmente no que se refere aos assuntos sobre direitos humanos e meio ambiente.
Nos EUA não existem apenas dois partidos políticos; na verdade, têm vários partidos políticos, mas que na prática acabam não tendo chances reais para elegerem um presidente; por isso, o destaque sempre recai sobre o Partido Republicano, mais conservador; e o Partido Democrata, com ideologia liberal, mais no sentido de costumes e não econômica, partido ao qual Joe Biden é filiado. Biden que é advogado e foi o vice-presidente durante o mandato de Barack Obama. Junto com ele, cumprindo uma de suas promessas de campanha, está sua Vice, a primeira mulher negra a ocupar essa posição, Kamala Harris, então senadora pela Califórnia, e que também foi procuradora-geral do Estado.
Elas representam cerca de 55% do eleitorado americano; e, de acordo com uma pesquisa do centro Paw, o comparecimento das mulheres para votação é maior que o dos homens. Para 2020, registrou-se um recorde de candidatas mulheres (a maioria do Partido Democrata); e, no que se refere às mulheres negras, houve um aumento de 154% no número de candidaturas (de 48 para 122). Com os primeiros resultados divulgados: o Novo México será o primeiro estado dos EUA a ser representado apenas por mulheres de minorias étnicas na Câmara dos Deputados: duas indígenas e uma latina; foi reeleita a mulçumana e refugiada; além da congressista ativista do movimento Black Lives Matter, Cori Bush. E, Alexandria Ocasio-Cortez (AOC) que foi reeleita para o cargo de deputada em nova York, com 68,5% dos votos.
O voto feminino foi decisivo para a vitória de Donald Trump em 2016. Mas agora, em meados de outubro especificamente, uma nova edição da Marcha das Mulheres, com mais de 100 mil participantes em mais de 400 cidades, foi realizada com protesto à reeleição do presidente americano, que acumula em sua carreira enquanto empresário, figura pública e político diversos casos de acusações de assédio, machismo e sexismo. A partir de então, pesquisas mais recentes passaram a apontar uma vantagem de 21 a 26 pontos percentuais entre as mulheres, favorecendo Biden; mostrando que elas mudaram de posição.
Olhar para o resultado das eleições americanas agora é ter confiança na possibilidade de mudança do atual cenário político brasileiro. As mulheres têm reconhecido seu potencial e seu lugar de pertencimento, e têm batalhado duramente para conquista-lo e ocupá-lo. Os dados ainda estão sendo divulgados aos poucos, mas já são suficientes para inspirar homens e mulheres, a dez dias das eleições municipais aqui no Brasil, a reconhecerem a urgente e necessária mudança social, política e econômica do nosso país, que tem o voto em mulheres como um dos instrumentos possíveis dessa mudança.
Seja nas eleições presidenciais da maior potência mundial, seja nas eleições municipal brasileiras, é possível verificar clara e dolorosamente que ser mulher e política não é nada fácil; seja aqui, nos EUA ou em qualquer outro lugar. Mas ao vermos esses resultados, nossas forças se renovam para formarmos, votarmos e elegermos mais mulheres. Afinal, o sucesso eleitoral feminino é símbolo de progresso para o mundo. Eu sou Cientista Política e voto em mulheres. E, você? Saiba mais sobre a Super Campanha: vemvoteemmulheres.org.