Texto de André César
A novela ainda não terminou. Pelo contrário, o drama gerado pela pandemia ganha capítulos cada vez mais aterradores. Na iminência de atingir a marca de 180 mil óbitos, o Brasil está longe de retomar a normalidade. Pior para todos.
O centro do problema está no Planalto, que insiste em manter uma postura negacionista. A dificuldade do governo federal em encarar a realidade e enfrentar os fatos ficou ainda mais evidente com o início do processo de vacinação contra a Covid em diferentes países. Vacinas e laboratórios, a princípio, não faltam – falta vontade política a Bolsonaro e seu grupo.
A batalha entre o Planalto e os governos estaduais subiu de escala nos últimos dias, com o bate-boca público entre o governador paulista João Dória (PSDB) e o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. A questão é clara e cristalina – há o temor de que a Anvisa estabeleça um ritmo lento para o processo de liberação das vacinas a serem utilizadas no Brasil. O atual quadro emergencial, em tese, deveria levar o órgão a acelerar as avaliações, mas isso pode não ocorrer. A se levar a sério a palavra de Pazuello, a burocracia pode falar mais alto.
Sobre o titular da Saúde, pouco há mais a se comentar. Medíocre na condução da crise, pouco eficaz nas negociações com governadores e prefeitos, péssimo em comunicação com a sociedade, sua gestão será lembrada pela inação e pela inépcia. A história cobrará seu preço.
As imagens de vacinação em outros países começam a circular o planeta. Os britânicos já celebram o fato, um sopro de esperança a todos. A questão é: qual será a reação da opinião pública brasileira ao perceber que a vacina ainda demorará a chegar ao país? O risco de impacto negativo sobre a popularidade presidencial é real. Bolsonaro, com suas pretensões de se reeleger, deve acender uma luz amarela desde já.
180 mil mortos, e contando. Não se trata de mera estatística, mas sim de pessoas com famílias, amigos, amores, sonhos. A verdade é uma só: não importa a origem da vacina. Sendo eficaz, ela será muito bem-vinda.
A politização da pandemia apenas contribui para aumentar os danos de uma situação por si só terrível.