Há duas artes marciais brasileiras: a capoeira e o Jiu-jitsu Brasileiro, o BBJ, da Família Gracie. Esta Família, nas pessoas dos patriarcas Carlos e Hélio, praticamente criou o BJJ, conhecido internacionalmente como Brazilian Jiu-jitsu, no início do século XX, no Pará. Essa modalidade não existia no Japão. Foi elaborada e aperfeiçoada com base no judô do mestre Jigoro Kano. A técnica de solo do BJJ é toda de Carlos e, em especial, Hélio.
Já a Capoeira tem suas origens em tempos mais antigos. Vem de índios e negros, então escravos. Resistiu a uma proibição legal, atravessou décadas de preconceito e, com o mestre Pastinha, também no século XX, firmou-se como arte-luta de gente séria, de quem se exigia até carteira de trabalho assinada para que pudesse aprender a modalidade mais antiga e tradicional, chamada de Angola.
Com mestre Bimba, surge a Regional, uma habilidade mais ágil, contemporânea, influenciada por outra luta, a violenta Batuque, de origem africana. E foi essa variedade que ganhou o mundo e hoje está presente em 152 países. A Capoeira leva as cores da Bandeira do Brasil nos cordões, a língua portuguesa do Brasil nas letras das ladainhas cantadas, o berimbau manufaturado aqui para ser tocado nas rodas e milhares de mestres e contramestres brasileiros espalhados pelos cinco continentes.
Capoeira e BJJ têm honrado o nome do Brasil nas artes marciais. No BJJ, os descendentes dos patriarcas mestres Carlos e Hélio Gracie continuam a honrar o nome da família e a produzir não apenas campeões de ponta, mas multiplicadores da cultura do Jiu-jitsu do Brasil em todos os países. Na Capoeira, em particular, precisamos nos lembrar de fundadores como os mestres Pastinha, Bimba, João Pequeno, João Grande (único ainda vivo), Caiçara e tantos outros.
É preciso guardar a memória desses mestres e fazer com que as gerações mais jovens se lembrem de que a Capoeira é representada por homens decentes como Vicente Pastinha e Bimba, não como o homicida Madame Satã. Isso é cultivar e honrar a memória dos verdadeiros heróis e enterrar os criminosos. Como escreveu o Padre Antônio Vieira: “O efeito da memória é levar-nos aos ausentes, para que estejamos com eles, e trazê-los a eles a nós, para que estejam conosco”.