Os analistas já reduziram a previsão de crescimento da economia para 2021
Texto de Vivaldo de Sousa
Enquanto avança no Congresso Nacional a PEC dos Precatórios, que pode ser classificada como um calote a decisões já transitadas em julgado no Judiciário, os sinais negativos na economia, com reflexo também para 2022, continuam se avolumando. Dados divulgados nesta quinta-feira (11) pelo IBGE mostram que o volume de vendas no varejo caiu 1,3% em setembro, em relação ao mês anterior, na série com ajuste sazonal, segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC).
Puxado pelas seguidas altas no preço da gasolina, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, acelerou para 1,25% em outubro, após ter registrado taxa de 1,16% em setembro. Com o resultado, a inflação acumula alta de 8,24% no ano e de 10,67% nos últimos 12 meses, acima do registrado nos 12 meses imediatamente anteriores (10,25%). É o maior índice para um intervalo de 1 ano desde janeiro de 2016 (10,71%), conforme os dados do IBGE.
Um outro indicador divulgado pelo IBGE no final de outubro, a taxa de desemprego, embora tenha registrado uma pequena queda, mostra que a falta de trabalho atinge 13,7 milhões de brasileiros. É como se toda a população do Paraná, que tem 11.597.484 moradores, estivesse desempregada. Vale registrar que, segundo o IBGE, aumentou a informalidade no mercado de trabalho e o rendimento real dos brasileiros teve uma queda histórica em 2021, conforme os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad).
O rendimento médio real do trabalhador foi de R$ 2.489 no trimestre encerrado em agosto – o que corresponde a uma redução de 4,3% em 3 meses e de 10,2% em relação ao mesmo trimestre do ano passado. Esse resultado sinaliza uma corrosão da renda proveniente no trabalho em um ambiente de inflação nas alturas. Na comparação com o mesmo trimestre de 2020, as duas maiores reduções no rendimento médio ocorreram em ocupações na indústria (queda de 13,8%) e no segmento de alojamento e alimentação (11,6%).
Nesse contexto, os analistas já reduziram a previsão de crescimento da economia para 2021, alguns falam até em uma pequena queda, e também para o próximo ano. Também subiram as estimativas de inflação para os próximos dois meses e as taxas de juros, que estão em alta há alguns meses, devem continuar subindo no primeiro semestre de 2022. Há, obviamente, alguns sinais positivos (contraditórios) com o aumento da arrecadação de tributos e a recuperação, ainda lenta no mercado formal de trabalho ao longo de todo o ano.
Mas cada uma olha para esse cenário e pode ver imagens diferentes. Nesta quinta-feira (11.11), o presidente Jair Bolsonaro (ainda sem partido) afirmou, durante evento no Palácio do Planalto que “a nossa economia está indo bem, uma previsão extra de arrecadação de mais de 300 bilhões de reais, mas nós temos responsabilidade.” Enquanto isso vamos esperar pelo próximo aumento de gasolina, de gás de cozinha, do arroz, da conta de luz…