Em 2022, neste terceiro turno, militares de alta patente engajados no golpismo, eternos saudosos da ditadura
Por Vinício Carrilho Martinez e André César – SP
Transcorridas três semanas da eleição e nada…nada de aceitarem a derrota – “com transição em curso” (será que em janeiro de 2023 os números serão os mesmos ou vão apagar mais?). O fato de já terem apagado inúmeros arquivos – verdadeira queima de arquivos – só evidencia, ainda mais, que travamos a pior batalha da história política republicana.
Sem contar os bloqueios que ainda seguem, os ataques terroristas nas rodovias, os alucinados que pedem “intervenção sideral” (isso mesmo, pedem que os Ets os ajudem a dar o golpe), tivemos no dia 30.10.2022, dia da eleição, um emparedamento da PRF impedindo eleitores de chegarem às urnas. O golpe eleitoral foi infrutífero, como vimos, mas seguem os atos golpistas contra qualquer noção precária que pudéssemos ter sobre a República.
O que se pratica desde 2016 pode ser tudo, menos republicano, a contabilizar o Golpe de Estado bem sucedido de 2016. Porém, em 2022, neste terceiro turno – com militares de alta patente engajados no golpismo, eternos saudosos da ditadura, das mortes e torturas institucionalizadas –, há que se perguntar: qual é o jogo?
O jogo está sendo jogado?
Não se trata apenas da desídia e do abandono de cargo do ex-presidente – supostamente vitimado de erisipela (como anunciou Mourão, o general-vice), pois aí teria de haver licença médica, com a assunção do vice –, trata-se, sobretudo, do desmantelamento do chamado Estado Republicano. Salvo decisões do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em busca de uma frenagem no financiamento empresarial-mercantil do golpe em curso, o próprio Ministério Público mal reage às investidas contra o significado e os bens públicos: ao povo resta digerir esse mal súbito que acompanha o mistério público…
Será que alguém ainda tem dúvidas do que se praticou neste país desde 2016? E antes, a partir das revoltas infanto-juvenis de 2013 ou na contestação golpista da eleição de 2014, pelo PSDB de Aécio Neves?
Alguém, com um mínimo de lógica e sem se acometer de dissonância cognitiva, tem dúvidas quanto ao jogo, jogado por golpistas? Alguém, dotado de mínima lógica sensorial – e inteligência social –, tem dúvidas sobre o jogo praticado pelo Fascismo Mercenário?
Lembremos que os mercenários, acampados em rodovias ou em frente aos quartéis são financiados (churrascos de picanha, cervejas, camisetas da copa…) por “empresários e empresas” carimbados pela insolvência, corrupção, sonegação, evasão de divisas.
Então, qual é o jogo, jogado, se não for uma orquestração miliciana, rentabilizada pelo pior tipo de capital de barbárie – de “gente capaz de comer gente, com bananas assadas” –, qual é o jogo, jogado, a não ser em prol da desconstrução neste país? Há outro nome para quem combina, no mais íntimo do ser, o não-ser resultante da zoofilia, canibalismo, genocídio, pedofilia.
O jogo, jogado por Hitler, era semelhante, mas também diferente, afinal, o pai de todos os nazis era vegetariano e não fazia sexo com sua cadela de estimação. Hitler teria sido condenado pelo Tribunal de Nuremberg (e executado), se não tivesse cometido suicídio, alguém daqui já foi condenado pelo Tribunal Permanente dos Povos, por crimes contra a Humanidade.
A partir de agora, qual será o jogo, jogado dentro ou fora das quatro linhas, lá em Haia?
(Vinício Carrilho Martinez é cientista social e André César é cientista político)