Qual será a função de Alckmin, passada a transição? Será um primeiro-ministro, enquanto Lula atuará como chefe de Estado?
Por André César e Vinício Carrilho Martinez – SP
Não é esse desenho que temos atualmente, muito claro desde o ambiente da COP27, realizada no Egito? Aliás, desde antes da campanha eleitoral o petista sinalizava com esse quadro.
É provável que esse cenário se acentue, especialmente em 2023. Porque o esforço de reconstrução do país passa pela transformação radical da situação de pária que vivemos hoje.
O mundo inteiro, talvez com exceção de Tonga e do Afeganistão (entre o Estado Islâmico e o Talibã), espera, com enormes preocupações, o encerramento de 2022. Ninguém em sã consciência aguenta mais o Brasil de 2018-2022.
Desse modo, não surpreenderá se, após a posse, Lula venha se destacar muito mais internacionalmente do que hoje. Alguns chamam isso de Efeito Mandelização – em referência ao líder sul-africano Nelson Mandela. Não há exagero algum.
Só há enorme exagero na comparação a Gandhi e Martin Luther King, pois ambos fundaram sistemas, matrizes de visões de mundo. O que, efetivamente, é muito diferente do que temos no país.
Em todo caso, e para os melhores efeitos nacionais – notadamente após a vitória eleitoral mais complexa da história republicana: o que em si é muita coisa -, a atuação internacional de Lula traz à tona uma questão essencial: o Reconhecimento Internacional, em maiúsculo mesmo.
Na mais tradicional Teoria do Estado, ao largo da fixação territorial, da identidade de um Povo (Adensamento Cultural) e da não-contestação de sua Soberania, o Reconhecimento Internacional, após a edificação do país-Estado, é o primeiro critério a ser avaliado, averiguado.
Pois, sem o Reconhecimento Internacional, é como se esse novo Estado não existisse na ordem mundial. Aqui cabe o exemplo recente da Palestina que, inclusive, luta pelo Reconhecimento da própria ONU.
Este sentido também se encontra na conhecida Declaração de Montevideu, de 1933.
Esse Brasil de 2016-2022, agora de forma muito aguda, encontra-se nesse estágio. Lutaremos muito pelo nosso reconhecimento, especialmente para frisar que voltamos ao terreno da civilidade.
É óbvio que o Brasil é um país independente e soberano (com muitas aspas), porém, hoje não há o mínimo respeito e significação internacional.
Esse será o papel de Lula, ressignificar o país internacionalmente, a fim de que voltemos a atuar de modo significativo na Ordem Mundial, e não mais como párias.
A par disso, temos a obrigação da reconstrução das institucionalidades internas, da resolução da extrema miséria social e da punição de todos os praticantes sistemáticos de crimes contra a humanidade, contra o povo.
Mas, esse é tema para outro dia.
(Vinício Carrilho Martinez é cientista social e André César é cientista político e articulista do Misto Brasília)