O momento é de focar no processo de reconstrução do país diante de graves crises econômicas e social
Por André César – SP
“Sem anistia”. O grito-bordão ecoou inicialmente na Praça dos Três Poderes durante a cerimônia de posse do presidente Lula (PT), domingo último. Nos dias subsequentes, ganhou força nas redes sociais, com uma profusão de memes e charges. O ambiente político segue esgarçado, como se vê.
O movimento ganha força junto a parcela significativa dos apoiadores do novo governo. A ideia é clara – colocar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na cadeia em breve, sem anistia. Entre defensores e/ou simpatizantes estão importantes lideranças, como a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, e parlamentares do PSOL.
Algumas observações importantes. Dado o quadro calamitoso das contas públicas, as graves crises econômica e social e o desmonte do Estado, o momento é de focar no processo de reconstrução do país.
Os problemas são graves e muitos e não há tempo a perder com questões paralelas. A insistência na questão da eventual prisão do antigo mandatário pode, no limite, contaminar a agenda governista e inviabilizar a discussão de matérias fundamentais, como o novo arcabouço fiscal e a reforma tributária.
Não se trata de defender os atos do governo passado e sepultar em definitivo a história recente. Pelo contrário, tudo precisa ser rigorosamente apurado e os culpados deverão pagar. Tudo a seu tempo, porém.
Cabe à Justiça tratar do caso, e Bolsonaro já responde a quatro inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF). Há ainda questões em aberto, como o esquema das rachadinhas e, mais dramático, o assassinato da vereadora Marielle Franco, no Rio de Janeiro em 2018. Tudo no ar, aguardando respostas.
Por fim, Bolsonaro perdeu o foro privilegiado e, desse modo, deverá ser julgado (se o for) na primeira instância. Um longo e provavelmente sinuoso caminho, que testará a paciência dos defensores do “sem anistia”. Faz parte do jogo.
A hora é de refazer a nação, após quatro anos de profundas dificuldades. Tudo a seu tempo, com inteligência e responsabilidade. Como afirmou a jornalista Thaís Oyama no portal Uol, não se deve “colocar a guilhotina na frente dos bois”. Simples assim.