Historicamente ligado ao bolsonarismo, o agronegócio abertamente mantém restrições ao governo do petista
Por André César – DF
Dentre as várias Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) que em breve entrarão em funcionamento no Congresso Nacional, a que abordará as recentes invasões do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) será a mais complicada para o governo Lula (PT). O agronegócio e o mercado, oposição e setores da opinião pública pressionarão ao máximo durante as investigações, com o objetivo de acuar o Planalto. O jogo será bruto na Câmara dos Deputados.
Historicamente ligado ao bolsonarismo, o agronegócio abertamente mantém restrições ao governo do petista. Nem mesmo a presença, no primeiro escalão, de Carlos Fávaro, ministro da Agricultura com fortes conexões com os ruralistas, tem sido capaz de mudar esse quadro. A desconfiança é permanente e, para piorar, a presença de João Pedro Stédile, talvez a principal liderança sem-terra, na comitiva de Lula na viagem à China, sepultou qualquer possibilidade de diálogo entre as partes a curto e médio prazos. Negociações interrompidas.
A opinião pública, em especial setores médios da sociedade, também critica o MST e esse quadro poderá até se agudizar, a depender da evolução dos trabalhos da CPI. Nesse sentido, a cobertura dos eventos pela imprensa terá peso importante.
Assim, a oposição, em especial a ultradireita ligada ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), tentará surfar na onda das investigações, utilizando-se de métodos já conhecidos – estridência e barulho nas sessões parlamentares e exploração eficaz das redes sociais. Em tempos de disseminação de Fake News, esse será um problema adicional para o Planalto.
Não por acaso, a distribuição dos postos de comando do colegiado é parte fundamental do processo. O controverso deputado Ricardo Salles (PL-SP), ex-ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro, trabalha com seus aliados para assumir a relatoria da CPI. Sua eventual presença, além de reforçar ainda mais a pressão sobre o MST e sobre o governo, servirá como uma espécie de vitrine política – ele pretende disputar a prefeitura de São Paulo em 2024.
Da parte do MST, o grupo de advogados Prerrogativas realizará um mutirão de assessoria jurídica para integrantes do movimento que sejam convocados a depor. Medida preventiva importante, que se mostrará necessária, sem sombra de dúvida.
Ao governo e suas lideranças, por fim, espera-se capacidade de articulação e reação efetivas, o que ainda não foi demonstrado na atual gestão. A agenda do Planalto é extensa e complexa e será necessário não pisar nas cascas de banana que surgirão ao longo dos trabalhos da CPI do MST.