O aumento da temperatura causado pelo efeito estufa vai encolher significativamente as áreas onde a araucária consegue sobreviver
Por Rodrigo Choinski – PR
Árvore que simboliza as paisagens do Sul do Brasil, a araucária se destaca nas regiões frias da Mata Atlântica como uma planta majestosa e de copa peculiar, em formato de guarda-chuva.
Sua presença, contudo, é cada vez mais rara devido ao avanço da agricultura e à extração madeireira.
Veja animação sobre o estudo da universidade logo abaixo
Nas últimas décadas a espécie perdeu 87% da sua cobertura, que abrange a chamada Floresta Ombrófila Mista, encontrada em serras no Sul-Sudeste e em alguns países vizinhos.
A ausência das araucárias é uma história conhecida do povo indígena Guarani Nhandewa, que mora no Norte do Paraná, onde fica a Terra Indígena Laranjinha.
“Na região em que passei parte da infância a gente já via destruição. Muito desmatamento por conta da agricultura, da monocultura”.
“Você saia fora do território, nas bordas já começava o processo de desmatamento, assoreamento dos rios, via-se só a terra vermelha mesmo”, conta Eloy Jacintho, um dos líderes desse povo e membro do Conselho dos Povos Indígenas do Paraná.
Os Guarani Nhandewa fazem parte de uma das várias ações da sociedade civil que buscam a preservação da araucária, dessa vez na Região Metropolitana de Curitiba. Desde 2021 cinco povos indígenas tentam reverter a perda da araucária na Floresta Estadual Metropolitana.
A floresta faz parte de uma região de manancial, a Área de Preservação Ambiental de Piraquara, a 22 quilômetros de Curitiba, que tem um dos principais reservatórios de água da região.
Mas a tarefa de recuperação, que já parecia difícil frente à perda constante de floresta e o avanço das serrarias e das plantações de eucalipto, tem um novo desafio no horizonte.
O aumento da temperatura causado pelo efeito estufa vai encolher significativamente as áreas onde a araucária consegue sobreviver.
É o que mostram os resultados de um estudo da Universidade Federal do Paraná (UFPR) publicado na revista Global Ecology Conservation.
Os pesquisadores avaliaram milhares de cenários com diferentes configurações e variáveis que trouxeram resultados pouco animadores.
Com o aumento da temperatura haverá uma diminuição entre 45% e 56% das áreas potenciais de distribuição da Araucária até o ano de 2050.
Segundo o professor do Departamento de Biodiversidade da UFPR em Palotina, Victor Pereira Zwiener, coordenador do estudo, isso significa que devido às mudanças no clima a espécie não vai conseguir manter populações viáveis nessas regiões anteriormente favoráveis.
O pesquisador explica que isso leva à descontinuidade dos esforços reprodutivos, com diminuição da produção de pinhão, semente da araucária, e dificuldade de adaptação dos novos indivíduos às novas condições climáticas.
O resultado é o declínio populacional, com o aumento nas taxas de mortalidade e diminuição de novas árvores.
A araucária necessita de certas características específicas para se desenvolver.
Os fatores identificados no estudo são solos bem drenados, temperaturas amenas, com médias entre 16ºC e 23 ºC e baixa variabilidade ao longo do dia, combinada com alta precipitação anual, entre mil e 2,5 mil milímetros por ano.
A árvore também se adapta melhor a solos ricos em matéria orgânica e com grande atividade biológica, não ocorrem em solos aluviais que são periodicamente alagados ou com excesso de alumínio.