Trump abandonar Ucrânia evoca pacto de 1938 com nazistas

Hitler e Mussolini desfile Misto Brasília
Hitler e Mussolini em desfile militar na década de 1930/Arquivo/Viomundo
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Como parte do acordo, em 1938, líderes franceses e britânicos decidiram abandonar aos nazistas a antiga Tchecoslováquia

Por Jean-Philip Struck

“Não posso deixar de me perguntar: já estivemos aqui antes? Tchecoslováquia, 1938. Temos um agressor às nossas portas, com a intenção de tomar território que não é dele”.

“E os negociadores […] já estão entregando suas fichas de barganha antes mesmo de as negociações começarem. Essa é uma tática desastrosa. E estamos caminhando a toda velocidade para o desastre.”

Essas observações foram feitas em fevereiro por Kaja Kallas, ex-premiê da Estônia e atual alta representante da União Europeia para Exterior e Segurança, durante a Conferência de Segurança de Munique.

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O local do discurso não poderia ser mais simbólico: a poucas centenas de metros do prédio no qual, há 86 anos, líderes da França e do Império Britânico assinaram o Acordo de Munique.

Marcou o clímax da política de apaziguamento dos anos 1930, quando potências ocidentais concordaram em ceder a ambições territoriais da Alemanha nazista na esperança de que isso serviria para evitar um novo conflito mundial.

Como parte do acordo, em 1938, líderes franceses e britânicos decidiram abandonar aos nazistas a antiga Tchecoslováquia (hoje dividida entre República Tcheca e Eslováquia), permitindo que o regime de Adolf Hitler anexasse, sem luta, parte considerável do país da Europa Central.

Em nenhum momento os tchecoslovacos foram ouvidos, enquanto as potências da época decidiam seu destino.

No entanto, longe de satisfazer os nazistas, o acordo foi rapidamente rasgado por Hitler, que, bastante reforçado pelo domínio do novo território, anexou o restante da Tchecoslováquia e depois voltou seus olhos para a Polônia, dando início à Segunda Guerra Mundial.

Entre os tchecos, o acordo ficou conhecido como “A traição de Munique”. E para vários líderes se tornou um paradigma de que a política de apaziguamento, quando aplicada a regimes expansionistas e agressivos, está fadada ao fracasso.

“Como historiador e político, a única coisa que posso dizer hoje é: Munique nunca mais”, disse o premiê polonês Donald Tusk, na mesma conferência em fevereiro de 2025, ecoando a visão da estoniana Kallas.

Trump x Ucrânia

Os dois políticos do Leste Europeu não estavam apenas citando um acordo que é considerado um dos maiores desastres da história da diplomacia, mas também manifestando temor de que a história possa se repetir agora com a Ucrânia, há três anos está sob ataque da Rússia sob Vladimir Putin.

Tusk e Kallas evitaram mencionar nomes, mas entre os participantes da conferência estava claro que o temor era que os EUA, desde janeiro novamente sob o comando de Donald Trump, reencenassem o papel dos britânicos e franceses em 1938, abandonando os ucranianos frente aos russos.

E, ao longo de fevereiro, o temor entre os europeus apenas foi reforçado. Trump revelou que havia começado a conversar diretamente com Putin, e negociadores americanos e russos se reuniram na Arábia Saudita para falar sobre a guerra – os ucranianos e seus aliados na Europa não foram convidados.

Em seguida, Trump declarou que não achava “importante” que o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, participasse das negociações, e começou a condicionar a continuidade da ajuda militar e financeira dos EUA aos ucranianos à assinatura de um bilionário acordo de exploração mineral, classificado por alguns analistas como uma “extorsão”.

Posteriormente, chamou o líder ucraniano de “ditador” e fez elogios a Putin.

A virada na posição americana ficou mais clara quando representantes do governo Trump começaram a falar abertamente em pressionar os ucranianos a fazerem concessões territoriais ao Kremlin para pôr fim ao conflito – atualmente, os russos ocupam 20% do território ucraniano.

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