O mundo e suas guerras esquecidas

Congo guerra crianças órfãos
Crianças são as principais vítimas das guerras, como a do Congo/Arquivo/Serge Kats/X
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Não interessa aos donos do poder que os conflitos periféricos ganhem espaço. É o caso da guerra no Congo, onde há vários interesses econômicos

Por Marcelo Rech – DF

Atualmente, o mundo lida com pelo menos 120 conflitos que vão desde as guerras no Leste Europeu, passando pelo Oriente Médio com Israel enfrentado Hamas, Hezbollah e os Houthis, pelo Haiti e pela “desconhecida” República Democrática do Congo. São conflitos que nos ajudam a entender muito da hipocrisia vigente no sistema internacional.

Ganham visibilidade aqueles que, por razões meramente políticas, são usados a favor ou em detrimento de adversários e inimigos poderosos. É o caso da guerra no Leste Europeu, que dura três anos. Falar desta guerra importa mais que chamar a atenção para as demais, invisíveis ou simplesmente esquecidas.

Assista o vídeo logo abaixo

Leia: embaixada do Brasil é atacada a tiros no Congo

Não interessa aos donos do poder que os conflitos periféricos ganhem espaço. Por exemplo, apenas em 2024, no Haiti, país onde o Brasil comandou por 14 anos uma missão de estabilização com mandato da ONU, morreram seis mil pessoas na guerra civil. Ninguém consegue estimar quantos feridos e sequestrados esse conflito já produziu.

O Haiti não importa para nada. Nem mesmo para as Nações Unidas. Assim como não importam as vítimas no Sudão, Mianmar ou Congo. Para a ONU, importam Ucrânia e Gaza, onde são despejados milhões de dólares em cash, em armas e, supostamente, ajuda humanitária.

Vejamos um exemplo concreto dessa hipocrisia. Na República Democrática do Congo, um dos maiores países da África negra, milhares de pessoas foram assassinadas nas últimas cinco semanas por guerrilheiros do M23. Comunidades inteiras de Kivu do Norte e Kivu do Sul, foram devastadas.

Mas, ninguém sabe. Nenhum grande veículo de comunicação estampa a carnificina na África. Esse conflito não interessa. Nem mesmo para o Brasil, apesar de o país integrar a Missão das Nações Unidas na República Democrática do Congo (Monusco) da qual o comandante é um general brasileiro.

Uma das razões pelas quais essa guerra é invisível, guarda relação direta com o que está por trás dela. A República Democrática do Congo possui algumas das maiores reservas mundiais de cobalto (insumo fundamental para baterias de carros elétricos), urânio, cobre, petróleo e água, além de coltan (mineral imprescindível para a fabricação de celulares) e cassiterita.

Um estudo do Banco Mundial revelou que o país possui uma riqueza natural estimada em USD 24 trilhões. Isso equivaleria ao PIB da Europa e dos EUA juntos. No entanto, apesar dessa riqueza literalmente enterrada, cerca de 75% da população vive com apenas um dólar por dia.

A crescente demanda mundial por cobalto e terras raras para a área de tecnologia alimenta as tensões. No âmbito regional, Ruanda e Uganda têm interesses financeiros nas minas do Congo. No plano global, a disputa se centra em China e EUA, com a Europa de olho nas sobras.

Pelo caminho, centenas de intermediários que nutrem o conflito que apenas desgraça o país. A maioria deles, vivendo confortavelmente nas capitais europeias que pregam o desenvolvimento sustentável.

Enquanto a guerra no Congo for invisível, muita gente continuará lucrando com ela, incluindo as burocracias da ONU e da União Europeia.

Vídeo – O grupo de milícias ruandês M23 capturou Goma, uma das cidades mais populosas do Congo. em janeiro passado.

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