Ao longo do Eixo Monumental, as barracas de souvenirs e alimentos foram desmontadas, pondo fim àquela enorme feira livre
Por Sérgio Botelho – DF
A sexta-feira, 22 de abril de 1960, foi dia de os turistas darem início ao desarmamento de barracas que encheram os enormes espaços livres da nova capital e transformaram-na num grande camping.
Depois de assistir, no dia anterior, ao inacreditável ato histórico, para a maioria dos visitantes era hora de voltar para casa, em suas cidades, deixando para trás a poeira de uma urbe ainda em construção e o enorme frisson potencializado a partir da terça-feira, 19, com o aumento de caravanas chegadas a Brasília por terra e ar.
Agora, eram as estradas de volta que se encontravam lotadas de carros, caminhões e ônibus.
No saldo dos atropelos, acidentes de trânsito deixaram três figuras de destaque em tratamento hospitalar: o embaixador Helmuth Moller, da Dinamarca; o coronel Mesquita, do gabinete militar da Presidência da República; e o deputado Neiva Moreira, do PSP do Maranhão. Nenhum, contudo, a provocar maiores preocupações. (Além de um deputado que viveu o estouro da encanação de seu apartamento, inundando tudo).
Ao longo do Eixo Monumental, também as barracas de souvenirs e alimentos foram desmontadas, pondo fim àquela enorme feira livre aonde de tudo se vendia e muito se comprava. Pensões improvisadas, hotéis e meios de hospedagens em geral passaram a ficar vazias. Um dia depois, e por mais dois, a festa deveria ter menos presença de turistas.
Algumas delas, a portas fechadas, no interior dos palácios de Brasília, com número restrito de convidados. Havia programadas as inaugurações do Tribunal Federal de Recursos e do Tribunal Superior Eleitoral. Também estava marcado um banquete na Presidência da República para 35 pessoas.
Uma apresentação, à noite, da Orquestra Sinfônica Brasileira (com um balé iluminado no alto do Congresso Nacional e uma inusitada e bela pirotecnia de fogos de artifício), regida pelo maestro Eleazar de Carvalho, e competições automobilísticas, corridas de barco e inauguração do Cine Brasília eram eventos que deveriam ficar já mais restritos aos que decidiram fixar residência na nova capital, representar o povo no parlamento ou seus países nas embaixadas.
Brasília iniciava sua trajetória de cidade com vida própria, com os seus protagonistas, e muita, mas muita coisa mesmo ainda a construir.
Outros textos da série Brasília e suas histórias
Leia – Embratel reduziu o isolamento de Brasília
Leia – a solidão de Brasília 12 anos depois de inaugurada
Leia – Rita Hayworth em Brasília
Leia – Juscelino desmente boatos de continuísmo
Leia – Em 1962, Brasília ainda alimentava pessimismos como capital do Brasil
Leia – Academia Brasileira de Letras decide ficar no Rio