No auge de suas carreiras, em 1974, Muhammad Ali e George Foreman se enfrentaram no Zaire. A disputa, conhecida como “A Luta do Século”, foi épica e gerou filme e um livraço de Norman Mailer (“The fight”). Após extenuantes e intermináveis rounds, um dos contendores venceu por nocaute.
O recente embate entre Michel Temer e Renan Calheiros, que culminou no rompimento entre os dois, remete ao duelo no Zaire. Antes de falarmos nas similaridades dos dois casos, analisemos rapidamente a situação dos peemedebistas em conflito.
Calheiros, apesar de acuado pela Justiça, em especial pela Lava Jato, ainda tem grande peso político. Líder da bancada peemedebista no Senado, comanda informalmente parlamentares de outras legendas.
Com sua força, ele poderá no mínimo atrasar o processo de votação das reformas em curso – reformas essas que o governo quer aprovar com urgência. Mais ainda, seu instinto de sobrevivência, já demonstrado em outras ocasiões, indica que ele não medirá esforços para confrontar Temer. O jogo será cada vez mais bruto.
Do lado do presidente da República, a situação não é tranquila. Com a popularidade em baixa, a economia ainda patinando e a Lava Jato nos calcanhares do governo, Temer tem pouca margem de ação. Seu principal ativo, no momento, é sua capacidade de negociação com o Congresso Nacional. Pode ser pouco, a depender da evolução dos fatos e da contenda com Calheiros.
Qual a similaridade entre os dois eventos? No combate, Ali e Foreman eram as duas maiores estrelas do boxe mundial. A disputa em Brasília também se dá entre as duas principais lideranças do PMDB. Além disso, em ambos os casos os adversários estavam esgotados – física e mentalmente na luta, politicamente na briga Temer e Calheiros.
Por fim, o país acompanha mais esse imbroglio com assombro parecido ao do povo do Zaire. O resultado final interessa a todos.
A política, por vezes, se assemelha ao boxe. Sem o combate físico mas com muita estratégia e retórica. A única diferença entre os dois casos é que, no ringue, Ali derrotou seu adversário. Em Brasília, os dois adversários podem cair juntos, em uma amarga derrota dupla.