A esperada fragmentação da sucessão presidencial tem levado muitos a se apresentarem como pré-candidatos ao pleito de outubro. Nesse momento, as prateleiras do supermercado da política estão abarrotadas de nomes de todo tipo. Essa profusão apenas confunde o eleitor. Há muita espuma e pouca substância.
Nesse quadro, o recente movimento do presidente Temer de mudar o foco da política da economia para a segurança pública tem grande impacto. Apesar da baixíssima popularidade, ele retomou o protagonismo e entrou no jogo.
A nova situação tem duas explicações. Vamos a elas.
Em primeiro lugar, Temer avança suas peças sobre os demais potenciais concorrentes. O ministro Henrique Meirelles perde espaço com uma agenda econômica “manca” (ou seja, sem a reforma da Previdência); o governador Geraldo Alckmin precisa reestruturar a questão do ministério da Segurança Pública, por ele defendido mas agora criado pelo presidente; Rodrigo Maia vê seu terreno eleitoral, o Rio de Janeiro, sob intervenção federal; e o deputado Jair Bolsonaro agora divide o discurso da segurança com Temer.
A esquerda, por sua vez, ainda está dividida quanto à nova realidade, apesar das críticas feitas à intervenção federal no Rio de Janeiro.
A segunda explicação para o novo quadro político baseia-se na história recente do país. Na retomada da democracia no Brasil, a partir de 1985, o então presidente José Sarney precisava de um plano que tirasse seu governo do marasmo. Nos primeiros meses de 1986 foi lançado o Plano Cruzado, que de imediato derrubou a inflação. A reação da população, em um primeiro momento, foi de forte apoio ao presidente – quem não se lembra dos “fiscais do Sarney?”.
O ápice se deu nas eleições daquele ano. O PMDB de Sarney elegeu todos os governadores, exceto o de Sergipe. Porém, logo a seguir, o Cruzado entrou em colapso e, junto com ele, o governo Sarney. Ao final, O presidente encerrou seu mandato com inflação fora de controle e popularidade no chão, sendo alvo de todos os candidatos durante a campanha sucessória.
Vem daí o termo “sarneyzação” do governo, processo de enfraquecimento e isolamento político ao qual o presidente Temer ingressava. Agora, a agenda da segurança pública dá novo fôlego ao Planalto, a menos a curto prazo. Com a proximidade das eleições, são reais as chances de Temer conseguir dividendos políticos. Mesmo que não seja candidato, pode apoiar um nome minimamente competitivo. O estigma de Sarney pode ser evitado.
É óbvio que trata-se de uma aposta de risco. Qualquer deslize no quesito segurança no Rio de Janeiro (ou no resto do país) sepultará de vez as pretensões de Temer.
Mesmo assim, foi uma jogada política inteligente. À noite, no Jaburu, Temer deve pensar: “meu nome não é Sarney “.