Inegavelmente, o desempenho do PSL nas eleições foi notável. De nanico, o partido passou a ator de peso na cena política nacional, podendo inclusive ganhar três governos estaduais (Roraima, Rondônia e Santa Catarina). É claro que o efeito Bolsonaro foi importante para o êxito da legenda, mas não só. Os candidatos, em todos os níveis, transmitiram as mensagens que o eleitor gostaria de ouvir.
Agora, o jogo muda de nível. O PSL será um dos protagonistas no próximo governo. Como o partido atuará? Vamos explorar a força das bancadas, as lideranças emergentes e a agenda da agremiação.
Bancadas: o PSL saiu das urnas como a segunda força da Câmara dos Deputados. Seus 52 eleitos representam 10% da Casa.
Pode parecer pouco, mas agremiação certamente ganhará novos parlamentares em curto espaço de tempo. Pela legislação vigente, deputados eleitos por partidos nanicos, como Patriota, PTC e PMN ficarão sem poder exercer integralmente suas funções parlamentares (liderança e presidência de comissões, por exemplo). Assim, esse contingente deverá, por conta da semelhança programática, aderir ao já robusto PSL, que tende a se tornar a maior bancada.
No Senado Federal, a bancada do PSL terá quatro representantes, ou 5% do total. Até agora, o partido não ocupava cadeiras na Câmara Alta e, portanto, todos os seus senadores serão estreantes. Assim como na Câmara, são reais as chances da bancada aumentar, recebendo membros de partidos mais à direita do espectro ideológico.
Lideranças: no caso do PSL, antigas lideranças se juntarão a rostos novos. O grande nome, é claro, será Jair Bolsonaro, o condutor maior das ações do partido. Ele usará muito de seu carisma e terá pulso firme para comandar seus correligionários.
Na Câmara dos Deputados, deverão se destacar Eduardo Bolsonaro (SP) e Delegado Waldir (GO), dois parlamentares já com experiência na Casa. A novata Joice Hasselmann (SP), que recebeu expressiva votação, terá atuação de destaque. Confirmada a vitória de Bolsonaro, ela anunciou a disposição de se tornar a Líder do Governo. Por fim, Luciano Bivar (PE), presidente licenciado da legenda e no comando do partido desde 1998, também terá ascendência sobre a bancada.
No Senado Federal, o grande protagonista será Major Olímpio (SP). Presidente do partido em seu estado, ele integra o grupo mais próximo a Bolsonaro. Também Flávio Bolsonaro (RJ) terá destaque.
Agenda: a grande incógnita em torno do PSL diz respeito a sua agenda. É evidente que Bolsonaro defende uma pauta conservadora nos costumes, assim como a bancada eleita pelo partido. Mas será somente isso?
No âmbito da economia, pairam muitas dúvidas sobre o possível viés liberalizante da legenda. Matérias fundamentais e delicadas como as reformas da Previdência e tributária e a privatização de estatais estão longe de um consenso no PSL. Muitos de seus representantes no Congresso têm origem militar e tendem a ser nacionalistas. Essa é uma questão que certamente gerará atritos. O mercado, que apoia Bolsonaro contra o PT, acompanha com lupa os movimentos.
Governo Bolsonaro: no caso de um eventual (e provável) governo Bolsonaro, o PSL ditará as regras do jogo no campo governista. Esse protagonismo ficará claro já no processo de transição, quando figuras de proa do partido negociarão as mudanças com representantes do governo Temer.
Além disso, o PSL tende a ser hegemônico na centro-direita. Esse hegemonismo, somado ao perfil duro de suas principais lideranças, dificultará muito as negociações com os partidos de esquerda, em especial o PT.
Considerações finais: o PSL representa o caso clássico de “renovação conservadora”. Renovação porque a maioria de seus representantes no Legislativo são debutantes na política. Conservadora porque defendem uma pauta de direita, voltada para questões como a defesa da família e de valores que muitas vezes se chocam com os interesses das minorias (anti-aborto, anti-LGBT).
O grande desafio do partido será atravessar a nova fase de sua existência mantendo coerência ideológica e programática. Do contrário, se tornará um novo PRN, partido que deu suporte a Fernando Collor na virada dos anos oitenta para os anos noventa do século passado e foi extinto pelo esgotamento de sua agenda.