Texto de Marcelo Rech
A Alemanha parece ter entrado na onda internacional de usar as queimadas na Amazônia para ameaçar a ratificação do Acordo de Livre Comércio Mercosul – União Europeia. As declarações da chanceler Angela Merkel de que tem “sérias dúvidas” e que “definitivamente” não assinará o acordo fechado em junho de 2019, no entanto, escondem outras questões, inclusive em relação às fraturas que não consegue consertar no âmbito da comunidade europeia.
Importante destacar que o acordo foi negociado por 20 anos e que, recentemente, as duas partes fecharam o capítulo político, uma espécie de termo de garantia, em que os dois blocos se comprometem, por exemplo, com o desenvolvimento sustentável e políticas ambientais sólidas.
Além disso, o Brasil criou o Conselho da Amazônia e as Forças Armadas atuam na Operação Verde Brasil 2, buscando justamente neutralizar as queimadas, mas também atuando em as ações de combate às organizações criminosas na região, que lidam com o desmatamento e mineração ilegal, entre outros.
Ignorar que o país está atuando na Amazônia é fazer o jogo do politicamente correto, para o qual não importa o que está sendo feito, mas quem está fazendo. Interessante observar que a Europa, tão ciosa com a Amazônia, silencia ostensivamente quando questionada sobre a presença altamente danosa ao meio ambiente, da empresa Hydro, pertencente ao governo da Noruega, no Pará.
Em fevereiro de 2018, a empresa produtora de alumínio admitiu usar uma “tubulação clandestina de lançamento de efluentes não tratados” em um conjunto de nascentes do rio Muripi. A mesma empresa, já havia sido responsabilizada pelo vazamento de uma barragem que continha soda cáustica e metais tóxicos, após chuvas fortes na região de Barcarena (PA).
Em 2017, quando o governo da Noruega também entrou no jogo internacional de criticar o Brasil pelo desmatamento na Amazônia, a Hydro acumulava uma dívida de R$ 17 milhões ao Ibama em multas por contaminação de rios da região em 2009.
Fica cada vez mais claro que a comunidade internacional decidiu tornar o Brasil a “Geni” dos seus problemas. Qualquer problema interno acaba sendo “resolvido” com apelos contra o Brasil e a favor da Amazônia. Emmanuel Macron faz isso com destreza exemplar.
Mas, voltando para a Alemanha, diante das dificuldades em manter a Europa unida, Angela Merkel parece ser mais uma líder disposta a usar o Brasil como cortina de fumaça, como se a União Europeia tivesse delegação para apontar o dedo para os demais. O ex-embaixador alemão no Brasil, Georg Witschel, deixou o cargo atirando. Na quarta-feira, 19, Heiko Thoms, assumiu em seu lugar defendendo exatamente os avanços em torno do acordo Mercosul – União Europeia.
Hoje, já não se sabe quem, na Europa, fala sério sobre um acordo que levou duas décadas para ser concluído. No entanto, sabemos que se as resistências ou negativas tivessem partido dos sócios sul-americanos, estaríamos sendo motivo de chacota, afinal os “sudacas” como são conhecidos os sul-americanos nos novos guetos europeus, não são sérios. Veem de republiquetas de bananeiras.
É fato que existem problemas no Brasil, um dos países mais desiguais do planeta, mas debitar todas as desgraças, principalmente ambientais, na conta do país chega a ser um ato covarde. Isso sem falar na montanha de dinheiro que os países europeus despejaram em ONGs vinculadas aos partidos de esquerda e que nunca chegaram aos programas ambientais.
Há reconhecimento interno de que é preciso intensificar os esforços pela preservação da Amazônia e de sua biodiversidade. Além de se implementar um projeto de desenvolvimento sustentável para a região, algo que as grandes potências não querem. Os europeus precisam dizer a verdade: preferem uma Amazônia controlada por ONGs que podem manipular e pelo Estado brasileiro.