É fato que a transformação digital ocorre pela aplicação conjunta das diversas tecnologias, mas hoje isso não ocorre
Por Charles Machado – SC
Curioso, mas diariamente a vida tenta imitar a arte, e quase sempre como farsa, afinal se pra arte não existe limites para criatividade, na vida o que não faltam são limites, adversidades e principalmente uma concorrência avassaladora na disputa pelo mesmo dinheiro ou pela atenção que é claro se procura monetizar.
Na obra de Monteiro Lobato, o Pó de Pirlimpimpim, é uma substância de pó mágica usada para se teletransportar para diferentes lugares.
É com a mesma fé no reino fantasioso do universo empresarial que muitos empresários acreditam firmemente que a transformação digital, adquirida em pílulas de auto-ajuda ou em doses mais fortes através de contratos de consultoria, de coachings da moda ou Xamãs, para os mais alternativos, que o seu negócio ou a sua carreira, após essa mágica e anabolizada dose, possa se transformar.
Ou se teletransportar como na obra de Monteiro. Algo que o tempo se mostra impossível, ficando essa mágica apenas restrita ao universo negacionista que acredita na mágica das soluções simples e pouco dolorosas.
É fato que a transformação digital ocorre pela aplicação conjunta das diversas tecnologias. Nesse momento de forma isolada, nenhuma tecnologia produz efeito suficiente para realizar a transformação digital, seja na empresa, nas nossas carreiras ou em nossas residências.
Von Neumann, um matemático húngaro de origem judaica, posteriormente naturalizado estadunidense, contribuiu com seus estudos para muito do que vemos ser utilizado na transformação digital.
Seus estudos contribuíram na teoria dos conjuntos, análise funcional, teoria ergódica, mecânica quântica, ciência da computação, economia, teoria dos jogos, análise numérica, hidrodinâmica das explosões, estatística e muitas outras áreas da matemática. Von Neumann faz duas observações importantes: aceleração e singularidade.
Novas tendências, mas o futuro é incerto
A primeira ideia é que o progresso humano é exponencial (se expande multiplicando-se repetidamente por uma constante) ao invés de linear (isto é, expandindo por meio da adição repetida de uma constante).
A segunda é que o crescimento exponencial é insidioso, começando lentamente e praticamente imperceptível, mas além de certo ponto torna-se explosivo e profundamente transformador. Ou seja, o futuro é quase sempre mal compreendido, pois os nossos antepassados esperavam que fosse muito parecido com o presente deles, que tinha sido muito parecido com seu passado.
Isso é bem fácil de entender, veja sobre os mais diversos ramos, quando você vai a um fabricante de mobiliário escolar, ele sempre pensa o futuro com melhores cadeiras e carteiras escolares, de que maneira esse mobiliário pode evoluir e vem a pandemia e diz que as aulas podem ser vistas de casa, sem salas ou com bem menos salas de aula e logo, com muito menos móveis escolares.
Assim, ele fica distante de aproveitar as novas tendências, pois perde sempre muita energia querendo que o futuro seja apenas o seu presente com pequenas e melhorias no seu negócio, por isso que todas as tecnologias quando fica obsoletas quase sempre não são substituídas pelos mesmos atores.
Veja por exemplo alguns casos, por acaso algum fabricante de mimeógrafos fabrica máquinas de cópia? Por acaso algum fabricante de telefonia fixa virou referência na telefonia móvel? E assim poderíamos passar o dia inteiro dando exemplos.
Não há especialistas que ditam regras sobre riscos
O fato é que as tendências exponenciais já existiam há mil anos, mas nem sempre percebidas pelos observadores da época, pois sempre esses olham um futuro bem mais próximo.
Existe nessa trajetória, aquilo que Nassim Taleb chama de um cisne negro. Para ele, coisas altamente improváveis que nunca aconteceram, mas que um dia podem acontecer, terão um impacto enorme. Veja o impacto do 11 de setembro e o impacto da pandemia atual, todo mundo achava que cisnes negros não existiam porque nunca ninguém tinha visto um, até que um foi avistado.
Torres não desabam sob o impacto intencional de aviões, isso nunca aconteceu até que aconteceu. Basta um evento para destruir a hipótese de que não existe cisne negro, assim bastará uma IA ficar consciente para que nossa autoestima evapore.
O fato é que não há conhecimento estabelecido ou expert que possa ditar regras sobre riscos assim, pois eles não são computáveis, por isso muitos cientistas defendem regulações que impeçam o desenvolvimento de entidades físicas (robôs) que possam se auto replicar.
Cada vez mais não se trata apenas de tecnologia, mas de informação. A transformação digital produz como resultado empresas menores e com menos empregados, porém, elas serão muito mais eficientes e alcançarão muito mais mercados, e a pergunta que você precisa fazer é se está preparado para comandar essas mudanças, ou você realmente acredita que o simples fato de ser o acionista majoritário do seu negócio já o torna suficientemente qualificado?
Ou pelo fato de ser o chefe maior na sua empresa pública já lhe dá o requisito suficiente para operar essas mudanças radicais que podem implicar no redesenho do negócio? Ou ser o senhor do seu consultório é o suficiente?
A pandemia já deu duros exemplos para isso, pois não só os empregos que vão se transformar, mas os empregadores também vão, logo isso deve acabar com a noção de empresa que temos hoje, pense por exemplo na transformação digital que vai substituir homens por máquinas.
O mesmo serve para os escritórios de advocacia, para os consultórios médicos entre tantos outros negócios.
São mudanças profundas que exigem a tenacidade de vikings ao navegar por mares bem pouco conhecidos. Afinal, o oceano das mudanças e das oportunidades é belo e gigante, mas nele tem tempestades, grandes ondas e muitos desafios, nem sempre previsíveis.
Um mar que pode e deve ser singrado pelos mais preparados, que estudam a ciência das cartas geográficas, se apoiam em relevantes estudos e não buscam atalhos nas previsões belas das videntes e alguns coachings de plantão.