O cineasta morreu hoje, em Brasília, onde construiu boa parte de sua vida e contribuiu para a cinematografia nacional
Por Sérgio Botelho – PB
Em postagens recentes, abordei, nesta série Parahyba e suas Histórias, três icônicas produções cinematográficas paraibanas:
Aruanda, Homens de Caranguejo e O País da São Saruê.
Comum, a todas elas, é a participação de Vladimir Carvalho (nos dois primeiros, como assistente , no último, na direção), um ilustre itabaianense, cineasta várias vezes premiado, nacionalmente, que nos deixou, nesta quinta-feira (24), com existência plenamente justificada por tudo o que realizou em prol da cultura brasileira, numa perspectiva humanista.
Exatamente por isso, pelo seu compromisso humano, foi perseguido pela ditadura, um tipo de regime político danado de refratário ao pensamento crítico e de escopo social. Foi parar em Brasília, onde virou docente da prestigiada Universidade de Brasília, até hoje.
Aí é que contribuiu para a cinematografia nacional, na medida grande! A fase inclui Conterrâneos Velhos de Guerra (1991), que narra a saga dos operários da construção de Brasília, revelando as condições de trabalho e a luta pela sobrevivência em meio ao grandioso projeto arquitetônico. São Saruê (12°) e Conterrâneos (21°) estão entre os 100 melhores documentários da história do cinema brasileiro.
Mais fez muitos outros, da mesma importância. Dessa forma, Vladimir Carvalho se postou como uma figura central no cinema brasileiro, cujo legado se encontra tanto nas obras que produziu quanto na influência que exerceu sobre o pensamento crítico e estético do documentário no Brasil. Foi ele quem o Brasil perdeu, hoje.
Nota do Ministério das Cultura
O Ministério da Cultura (MinC) recebeu com pesar a notícia da morte do cineasta Vladimir Carvalho – um dos mais importantes documentaristas do país. Sua obra, voltada à celebração da cultura e da identidade nacional, foi marcada por fortes crenças sociais e se transformaram em uma nova linguagem para o audiovisual brasileiro.
Nascido em Itabaiana, na Paraíba, mudou-se para a Bahia, onde passou a integrar o movimento Cinema Novo. A abordagem humanizada e com especial atenção às questões sociais foi considerada inovadora e se fez presente nos mais de dez documentários que produziu ao longo de seus 89 anos. Filósofo por formação, era presença constante em debates e mobilizações democráticas.
Em 1964, durante o Golpe de Estado que instalou a ditadura militar no país, Vladimir e Eduardo Coutinho filmavam Cabra Marcado para Morrer, no engenho Galiléia, em Pernambuco. Depois de algum tempo no interior do estado sob outra identidade para fugir da repressão, seguiu para o Rio de Janeiro, onde atuou como jornalista.
Em 69, Vladimir apresentou o curta metragem A Bolandeira no Festival de Cinema de Brasília. Foi convidado por Fernando Duarte, companheiro das filmagens do Cabra Marcado para Morrer, para participar do núcleo de produção de documentários do Centro Oeste na Universidade de Brasília (UnB), e não deixou mais a capital federal. Nela, fundou a Associação Brasileira de Documentaristas seção DF. Nos anos 1980 filma os longas O Homem de Areia (1981) e O Evangelho Segundo Teotônio.
Em 1994, Vladimir criou a Fundação Cinememória. Quatro anos mais tarde, a Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) concedeu ao cineasta o título de Cidadão Honorário de Brasília. O ano marca ainda a produção do longa metragem Barra 68, que conta as agressões que a Universidade de Brasília sofreu durante a ditadura. Em 2004, é nomeado embaixador cultural de Brasília- reconhecimento sobre seu legado e contribuição inestimáveis, seja para a cultura, seja para a sociedade brasileira.