A educação em tempo integral como combate à violência

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Estudantes de uma escola do Gama, no Distrito Federal/Arquivo/Agência Brasília
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E a maior procura, segundo a pesquisa, se deu por escolas públicas de tempo integral, mais do que as escolas privadas

Por Clarice Binda – DF

O último Censo da Educação publicado na quarta-feira (09), pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), trouxe um dado que chama atenção.

As matrículas em escolas de tempo integral da rede pública passaram de 18,2%, em 2022, para 22,9% em 2024. Na verdade, no decorrer dos anos vê-se um crescimento desse tipo de ensino no Brasil, segundo série histórica da mesma pesquisa.

Leia: matrícula em tempo integral aumentou

Tal dado mostra não só que há mais escolas em tempo integral disponíveis na rede pública para as crianças e adolescentes, mas também que há um crescente interesse das famílias por essa modalidade de educação.

E a maior procura, segundo a pesquisa, se deu por escolas públicas de tempo integral, mais do que as escolas privadas. Na rede privada, a modalidade de ensino integral cresceu de maneira mais tímida.

E esse é também um dado que diz muito sobre a importância e a necessidade da educação integral num país com a maior parte da população considerada vulnerável econômica e socialmente.

O objetivo da escola em tempo integral é ampliar o tempo de permanência dos estudantes em um ambiente seguro, com acompanhamento pedagógico e atividades estruturadas, oferecendo um ensino mais completo. Mas o grande ganho dessa modalidade de ensino, no Brasil, é afastar crianças e adolescentes da ociosidade e de contextos vulneráveis que, muitas vezes, contribuem para o envolvimento com a criminalidade.

São esses jovens vulneráveis que, ao saírem da escola com um só turno, não irão com seus pais ou outros cuidadores para atividades extras curriculares, mas sim para as ruas ou para a casa sozinhos, sem acompanhamento dos pais/cuidadores que tem que trabalhar 12 horas por dia, em geral num subemprego, para conseguir colocar comida na mesa, pagar o aluguel e as contas de casa.

Não é à toa que o crescimento de matrículas em escolas de tempo integral se deu mais em escolas públicas do que em privadas.

Assim, o investimento, que não se resume a oferta de vagas mas também em meios de permanência do aluno, em educação em tempo integral no país, deve ser encarado por qualquer governo como uma política de combate à criminalidade, como um pauta de segurança pública, haja vista que as crianças vulneráveis econômica e socialmente são as mais afetadas por viverem em ambientes com alto índice de violência no Brasil, as periferias e favelas que, em muitos casos, a segurança pública não chega.

Da mesma forma, é amplamente reconhecido que a exposição à violência pode impactar negativamente a trajetória educacional de crianças e adolescentes.

A sociedade, portanto, tem que cobrar classe política que esta pauta da educação integral esteja em qualquer plataforma de campanha ou debate político, a fim de livrar os jovens dos ambientes de violência e criminalidade que possam estar vivendo ou que poderão vir a viver.

Devemos enxergar a escola não apenas como um espaço de aprendizado, mas também como uma função social vital: garantir proteção, construir vínculos seguros, oferecer alimentação adequada, acesso à cultura e ao esporte e apoio psicossocial. E os governos tem que pensar a educação em tempo integral como parte de um projeto de país mais justo, inclusivo e seguro.

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