O Brasil, apesar da ambiguidade na execução de sua Política Externa, ainda pode exercer alguma influência neste processo
Por Marcelo Rech – DF
A reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas é tão urgente quanto necessária, mas é algo muito distante do radar das grandes potências. Atualmente, o mundo lida com mais de 30 conflitos em curso, sendo duas guerras no coração da Europa e no Oriente Médio.
Esses conflitos, embora possuam raízes peculiares, guardam relação entre si na medida em que o sistema internacional se mostra incapaz de geri-los. As Nações Unidas, há muito, perderam credibilidade e capacidade de se antecipar e evitar as crises.
Com uma agenda voltada para o chamado Sul-Global, o Brasil fez alguns movimentos para reabilitar o G4, grupo integrado também por Alemanha, Índia e Japão, que busca um lugar em um Conselho de Segurança condizente com a realidade geopolítica atual.
No entanto, Alemanha e Japão, países que estão se rearmando há algum tempo, parecem mais alinhados com Washington neste tema.
Não seria novidade que os EUA interferissem para fraturar o G4 e, com isso, numa eventual expansão do Conselho de Segurança, assegurar lugares para aliados confiáveis.
Esses dois países concentram bases e efetivos militares norte-americanos, têm históricos de cooperação com os EUA e, no caso da guerra entre Rússia e Ucrânia, fornecem apoio a Kiev, o que, obviamente, não contribui com os esforços de outros estados para que se alcance a paz na região. Pelo contrário, prolonga a crise e aumenta o número de vítimas.
Alemanha e Japão se veem, cada vez mais, forçados a coordenar o curso de suas políticas com a Casa Branca. Diante deste cenário a inclusão de ambos no Conselho de Segurança seria, no mínimo, questionável e não atende aos interesses dos países em desenvolvimento, o tal Sul-Global.
O Brasil, apesar da ambiguidade na execução de sua Política Externa, ainda pode exercer alguma influência neste processo, mas precisará de clareza e objetividade para angariar apoios em torno de um Conselho de Segurança minimamente equilibrado.
As suas credenciais – tamanho, economia, população, biodiversidade – são suficientes para que o país lidere a América Latina e represente os interesses das demais nações do Sul-Global.
Seguramente, uma iniciativa concreta nesta direção, aumentaria a eficácia da ONU, especialmente na resolução de questões complexas de segurança internacional, que são prioritárias para os países de todas as regiões.