Ao transformar a atenção em um recurso escasso, as plataformas digitais maximizaram seu poder de captura e controle das interações dos usuários
Por Charles Machado – SC
Você já percebeu a dificuldade que temos em reter a atenção de alguém por pouco mais de alguns minutos? Veja quanto tempo o seu filho fica atento a algo que não seja uma tela?
O universo atual quase tudo, parece e só pode ser contemplado se estiver vertido em tela.
Experimente viajar com seus filhos e veja quanto tempo eles ficam atentos a paisagem que os rodeia e quanto tempo é dedicado a tela dos seus celulares?
Esse movimento epidemiológico, sim afinal se as pessoas não conseguem caminhar, dirigir seus carros e ficar diante umas das outras sem olhar para a tela dos seus celulares é evidente que estamos diante de uma epidemia da desatenção, onde o verdadeiro e original perdem para o “chamativo”.
Atualmente a média de atenção humana é de espantosos oito segundos, o que torna as técnicas de engajamento fundamentais, e dane-se se o conteúdo é verdadeiro ou não, os novos seres dependentes de tela não se importam tanto com a verdade, e mesmo quando você apontar o absurdo do conteúdo eles continuam propagando, afinal mais importante do que a verdade é causar, e assim seguem os adoradores de mentiras nas redes sociais.
Tudo isso influencia é claro no universo econômico e social, impactando a todos na disputa da atenção, de uma atenção que “converta’, e é cada vez mais caro e difícil converter.
Recentemente, em um de seus best sellers, o comentarista político e autor estadunidense Chris Hayes destaca a relação entre as plataformas digitais e o colapso da atenção, algo que tem sido alimentado pela lógica da economia da atenção.
Ao transformar a atenção em um recurso escasso, as plataformas digitais maximizaram seu poder de captura e controle das interações dos usuários, o que, por sua vez, afeta a qualidade da informação e a confiança nas instituições.
Hayes aponta para uma transição do antigo modelo de jornalismo, onde jornalistas e veículos, como o The Washington Post, não estavam diretamente ligados ao número de visualizações ou à pressão de algoritmos.
A “moral da atenção” imposta pela lógica de maximizar cliques e interações diminui a capacidade crítica e deliberativa, substituindo o que é importante e verdadeiro pelo que é mais chamativo e provocativo. É essa ausência de senso crítico que faz com que ignóbeis propaguem besteiras.
E claro as redes sociais não estão nem ai, se é verdade ou mentira, contanto que a audiência seja mantida, não à toa recentemente, a Meta, comunicou a interrupção de seu sistema de checagem nos EUA.
Esse movimento, é um reflexo do momento de instabilidade na forma como as plataformas lidam com a desinformação, e pode ser interpretada como uma adaptação à crescente pressão para garantir lucros por meio do aumento do engajamento, muitas vezes às custas da qualidade da informação.
Ambiente cada vez mais polarizado
Essa alteração sinaliza um ciclo vicioso alimentado por um sistema em que a atenção e a manipulação de emoções dominam a percepção pública, especialmente em tempos de incertezas políticas.
Nos últimos anos, discutiu-se com mais força a necessidade de regulação para combater a desinformação e os abusos de poder das big techs, gerando um risco considerável ao modelo de negócios dessas plataformas gigantescas.
Em um ambiente cada vez mais polarizado, onde grupos de extremistas não sentam a mesa, ou não se reúnem em família, as plataformas se encontram divididas entre a pressão de adotar uma posição mais dura contra a desinformação e as alegações de censura que permeiam o discurso político.
Nessa nova economia onde seus dados e seu tempo são a moeda de troca, onde ter mais tempo seu, implica em ter mais dados seus, e não importa se você perde seu tempo lendo mentiras, o que vale é reter sua atenção.
Uma nova economia baseada na informação, seja ela verdadeira ou falsa, ao ponto de criarmos as fake news, verdadeiras maquinas de consumir seu tempo e sua atenção.
Logo, não se aborreça se o seu amigo vive compartilhando Fake News, saiba que ele não está só e muito menos é minoria, espalhar inverdades é um dos grandes problemas desse novo mundo digital, e por certo não iremos arder na fogueira santa das redes sociais.
O fato é tão significativo que cientistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) produziram um fantástico estudo sobre a matéria. Por esse estudo concluiu-se que as notícias falsas se espalham 70% mais rápido que as verdadeiras e alcançam muito mais gente, isso mesmo, as mentiras são turbinadas.
Os cientistas que produziram o estudo, analisaram todas as postagens que foram verificadas por seis agências independentes de checagem de fatos e que foram disseminadas no Twitter desde 2006, quando a rede social foi lançada, até 2017. E nos 11 anos de conteúdo estudado foram mais de 126 mil postagens replicadas por cerca 3 milhões de pessoas.
Padrões de disseminação das informações falsas
Segundo esse o estudo, as informações falsas ganham espaço na internet de forma mais rápida, mais profunda e com mais abrangência que as verdadeiras.
Os cientistas concluíram que cada postagem verdadeira atinge, em média, mil pessoas, enquanto as postagens falsas mais populares aquelas que estão entre o 1% mais replicado atingem de mil a 100 mil pessoas, eita maldade escorrendo sô.
No entanto, os padrões de disseminação das informações falsas que foram detectados foram os mesmos em diversos países, ou seja não é preferência de ninguém, logo não precisamos ter complexo.
Claro que espalhar mentiras tem seu foco preferido, ou a crença no pior, que no caso sempre recai sobre os políticos, pois de acordo com o estudo, quando a notícia falsa é ligada à política, o alastramento é três vezes mais rápido.
Sem dúvida a democracia se constrói com muita informação, mas preferencialmente com informação de qualidade, e quanto mais ajudamos um colega a identificar uma falsa notícia mais colaboramos para a consolidação do Estado de Direito.
O ataque puro e simples, através de fake news as instituições e a pessoas públicas sem uma justa e correta razão em nada contribui para o desenvolvimento.
Afinal a energia que se perde demonstrando os equívocos que a desinformação cria, além do tempo é por demais um dispêndio desnecessário. A internet é um mundo que se abre, o caminho a percorrer é você que escolhe, o que faz com seu tempo e com tanta informação.