O vazamento é mais um claro sinal de que o chamado “fogo amigo” é parte integrante do governo Lula da Silva
Por André César – SP
Na cena política brasileira, recentes eventos deixaram claro que assuntos aparentemente distintos estão totalmente conectados.
O eterno debate em torno da regulação das redes sociais, o vazamento de fatos ocorridos em reuniões fechadas e o estado atual da base aliada formam um arco que precisa ser analisado.
Quanto à questão da regulação das redes sociais, ficou evidente que o projeto de lei sobre o tema, há tempos debatido na Câmara dos Deputados, está definitivamente descartado.
Relatada pelo deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), a proposta desde sempre foi alvo de críticas de partidos à direita do espectro politico, Centrão incluído. O argumento desse grupo é simples – o projeto imporia limites à liberdade de expressão, ou seja, representaria uma espécie de censura.
O texto, no formato proposto pelo relator, conta com o apoio do Planalto. Na avaliação do governo Lula da Silva (PT), sua aprovação reduziria significativamente o incentivo à exploração de menores e ao feminicídio – e também ao crescimento da direita, que transita muito bem nesse território.
Os deputados, porém, estão firmes no engavetamento do projeto e, nem é preciso dizer, contam com o apoio das empresas do setor.
E qual a razão da questão das redes sociais ter voltado à tona? Simples. Em reunião fechada realizada em Pequim, o presidente Lula da Silva e a primeira-dama Janja reclamaram com o chinês Xi Jinping, de maneira firme, da atuação da popular plataforma TikTok.
A posição do casal presidencial causou desconforto na liderança chinesa e por pouco não virou um pequeno incidente diplomático. Xi não gostou da tentativa de interferência brasileira em questões internas da China.
A ausência de regulação das redes sociais explica, em larga medida, a posição de Lula e Janja que, a rigor, tratavam de outros assuntos com os chineses.
Aqui surge um problema extra. Um integrante da comitiva de Lula, presente ao encontro, “vazou” o fato para órgãos da imprensa brasileira, que rapidamente publicou o ocorrido. Ambiente carregado no primeiro escalão, que pode ter consequências mais sérias quando o titular do Planalto estiver de volta a Brasília. Cabeças vão rolar?
Por fim, o vazamento é mais um claro sinal de que o chamado “fogo amigo” é parte integrante do governo, com um agravante na atual gestão – o gigantismo da base aliada, que vai do União Brasil ao PSol, passando por MDB e outros, dificulta muito a ação de Lula. Vencer uma eleição é uma coisa, administrar o amplo leque partidário é outra.
A conclusão é uma só. Ao governo é urgente um ajuste geral, sob o risco de se perder definitivamente o controle do cenário político, com ganhos para a oposição. Uma crise real pode se instalar.