Há entre 1 mil e 1,5 mil plataformas do gênero, aponta o Instituto Jogo Legal, isso pode lhe dar uma dimensão desse lucrativo e perigoso mercado
Por Charles Machado – SC
Ao ligar a TV ou o computador na sua casa, quantos minutos se passam sem que você seja bombardeado por comerciais de ‘bets”? O espaço publicitário em qualquer economia será sempre o reflexo do domínio de um segmento, e logo tente imaginar qual o tamanho do seguimento das empresas de apostas a julgar pela sua publicidade?
A lógica da disputa da sua atenção, saiu das TVs e outros meios de publicidade para uma presença a cada dia maior dos nossos celulares, tudo milimetricamente estudado para captar a sua atenção. Desde 2005, com a explosão de smartphones que tudo fazem, até ligações, todos em maior ou menor grau passamos uma parte considerável do dia absortos em frente as viciantes telas dos nossos interativos celular.
E evidentemente perdemos muito tempo diante delas, mas e nossos filhos, o que fazem com seus olhares ansiosos diante dos seus celulares? O que fazem com esses aparelhos que parecem grudados em suas mãos, acompanhando-os por toda casa? Em tempos de pandemia, o uso é ainda maior, e os torna praticamente um só, e logo o que fazem grudados neles?
O papel do celular em nossas rotinas, pode ser medido quando perdemos ele, tente ver o que acontece depois de algumas horas sem saber onde está? A sensação de estar indefeso, bem como a série de tarefas que deixamos de fazer, agora imagine a importância deles e o seu efeito quando o assunto é o vício em jogos?
Agora imagine o fato de que inúmeras são as modalidades esportivas que são patrocinadas por sites de aposta, que mais do que serem local de apostas também reúne um conteúdo diversificado, de tal maneira que qualquer busca por um conteúdo esportivo nos faz trafegar pelas portas dessas casas de apostas.
E qual serias então o efeito de tanta publicidade em nossos adolescentes, é claro um olhar apressado acompanhado de uma boca igualmente apressada logo responderia, que não vê nenhum problema pois os sites de apostas limitam a entrada de menores de idades, o que eu repondo “santa ingenuidade Batman”.
Valor das apostas vem da mesada
É evidente que tal qual adolescentes em décadas passadas arrumavam um jeito de driblar a censura nos bailes e cinemas, também o fazem para participar de apostas esportivas. E ai o problema fica ainda mais grave.
Segundo estudos, do Instituto Jogo Legal, há entre 1 mil e 1,5 mil plataformas do gênero, aponta o Instituto Jogo Legal, isso pode lhe dar uma dimensão desse lucrativo e perigoso mercado para os nossos filhos.
Para os jovens, inicialmente o valor destinado às apostas vem da mesada recebida dos pais, depois pedem dinheiro emprestado aos amigos, e quando isso deixa de ser suficiente, buscam um agiota, e o que é pior como estar ligado a tela dos celulares é algo viciante a corriqueiro, os pais não percebem o que os filhos estão fazendo.
Segundo a psicóloga Sharon Medeiros, “os mecanismos que levam ao vício nas apostas online, quadro conhecido como “transtorno do jogo”, são os mesmos que atuam na dependência de álcool e drogas, porém quando se trata de crianças e adolescentes, é ainda pior, pois nessa fase áreas importantes do cérebro, relacionadas sobretudo ao controle de impulsos e à regulação emocional, ainda estão em desenvolvimento, deixando esse grupo especialmente vulnerável a qualquer dependência.”
No caso de apostas, segundo a psicóloga a imprevisibilidade gera uma excitação ligada ao risco de ganhar ou perder dinheiro. Você aposta R$ 5 e pode ganhar R$ 50, mas também pode arriscar R$ 500 e perder tudo, a incerteza acaba se tornando mais gratificante do que os ganhos. Como resultado, o cérebro quer repetir o comportamento, pois o considera altamente recompensador, o que acaba levando a apostas cada vez maiores e impensadas.
Ela lembra que para os mais jovens, como as áreas de controle ainda estão em formação, não existem os freios que podem racionalmente colocar uma interrupção.
Os jovens costumam se envolver com as plataformas de jogos por dois principais motivos: a falsa ideia de lucro fácil e porque as bets cumprem um papel de válvula de escape, quando o jogo se transforma em anestesia.

Atenção dos nossos filhos
Por razões biológicas, nesse período áreas cerebrais relacionadas ao controle de impulsos ainda estão em desenvolvimento indicação para vários tipos de problemas prévios, como depressão, conflitos familiares, ausência de afetividade, transtorno de déficit de atenção, flutuação do humor e até mesmo autoestima baixa, onde os possíveis ganhos também se traduzem em picos de melhora sobre a percepção que esses jovens têm de si mesmos.
A disputa pela atenção dos nossos filhos, pode ser por bets ou empresas de vídeo games, a lógica é sempre a mesma, capturar a atenção, e obter dados que possam ser convertidos em dinheiro, e logo toda essa disputa por atenção gera uma geração a cada dia mais desatenta, absortas e em um mundo paralelo.
Os sinais do transtorno do jogo podem ser notados a partir de mudanças emocionais e nas interações sociais. Embora cada caso seja único, é importante estar atento a uma possível queda no desempenho escolar e à dificuldade de se engajar em atividades que não envolvam jogos de azar e o uso de celular ou computador.
Outro indício preocupante é a falta de interesse no contato com outras pessoas e a dificuldade em manter uma rotina de sono, trocando o dia pela noite. A desregulação emocional é mais um sintoma comum, com crises de irritabilidade e agressividade.
A estratégia das bets e dos cassinos online para alcançar o público mais jovem está no próprio design dos sites, é toda uma arquitetura que envolve desenhos, cores e notificações, dizendo que seus amigos também estão jogando. São elementos atrativos aos mais novos, na velha lógica que alimenta as redes sociais e o sentimento de pertencimento. Se meus amigos estão, porque eu não posso estar?
Os jogos digitais viciam em uma velocidade muito distinta dos jogos antigos, como o jogo do bicho, pois eles veem acompanhados de muita interação, informação e estratégia, tudo com o único propósito de reter a sua atenção, dessa vez com instrumentos bem mais sofisticados do que os antigos apontadores de apostas do bicho.
Os jogos de azar, tem esse nome não porque trazem má sorte, mas pelo fato de serem jogos do aleatório.
O grande boom das apostas online também se alimenta da junção de várias tecnologias que já estavam disponíveis, mas que foram sendo combinadas para produzir essa explosão.
É a tecnologia da informação e da comunicação, o smartphone, a internet, o avanço da inteligência artificial, combinados a um produto que apela muito à população, que é o esporte, que entusiasma e inspira, tudo isso junto a impetuosidade dos nossos adolescentes e seu tempo dedicados as telinhas do celular e pronto!!!!
Temos a tempestade perfeita para uma nova epidemia de saúde, que antes ataca o já combalido bolso da nossa sociedade.