Sim, há solidariedade

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Você gira a chave e apenas o painel acende. Depois apaga. Vira novamente e o resultado é o mesmo. Tenta, tenta, tenta e por fim nem o vidro da porta fecha. Deu prego na bateria, penso.

No carro, o filho já largou os joguinhos do celular. Presta atenção na situação. Puxo o telefone e começo a ligar. Depois de mais de dez ou 12 tentativas em busca de auxílio, a chamada bate num desses serviços de auto socorro. O motociclista chega com uma “chupetinha” para dar a primeira carga.

Giro a chave e, bingo, o motor começa a trabalhar. O primeiro capítulo se encerra. O serviço custa R$ 50. Uma bateria nova é vendida por R$ 350 a R$ 400.

A prioridade é chegar em casa. O carro anda bem, como sempre. Atravesso a ponte JK. Depois,  surpresa, uma fila imensa num engarrafamento inesperado. Penso: “Caramba, agora ferrou. Se o motor parar fico no meio dessa porcaria”. Faço o comentário com meu filho de sete anos. Ele escuta em silêncio.

Ando mais dois ou três quilômetros morro acima. Dez, 15, 20 minutos. Para, anda, para. Acelera, freia. Acelera, freia. O painel dá o primeiro sinal de que algo pode acontecer. Todos as luzes ficam no vermelho. Mais o motor ainda funciona. Subimos o morro, viramos pra direita. No meio da pista do meio, tudo apaga. Miséria!!! Há uma imensa fila de carros atrás, no lado e na frente que segue muito devagar.

Abro a porta e tento empurrar para o lado. Não há acostamento. Carro pesado. Um pingo de suor cai pela testa no meio da noite. Percebo reforço sem pedir. Três caras ajudam a empurrar. Um motociclista e um motorista e, acho, um passageiro. A tentativa é pegar no tranco. Nada. Tudo apagado.

Começa o segundo capítulo dessa história. Uma quarta ajuda encosta. Um taxista com uma Bíblia no painel. Tem a famosa “chupetinha” para dar a primeira carga de energia. No meio do caos do trânsito tentamos o milagre do socorro. Agradeço o motociclista, ao outro motorista e ao passageiro. Eles ainda perguntam se preciso de mais ajuda. “Muito obrigado”, consigo dizer sem perguntar seus nomes.

O taxista, o senhor Heliton, tenta com a chupetinha, mas o motor não roda. Sugere puxar. Por sorte ando com uma corda no carro. Fui rebocado com cuidado, porque nesta situação o volante trava e o freio não funciona.

Somos arrastados por um lugar melhor, para uma nova tentativa com a “chupetinha”. Bingo!!! Motor funciona, mas percebo que um dos faróis queimou. Pouco importa, o negócio é chegar em casa. Nosso novo amigo segue seu caminho com cartões de visitas trocados. Leva também uma caneca com a marca do Misto Brasília.

Pergunto o preço da ajuda. Seu Heliton recusa e comenta que a vida é feita de passagens. Em resumo, quando pudermos nunca devemos recusar um pedido de ajuda. É uma aula de solidariedade que meu filho acompanha com atenção. Um aprendizado que ficará paro resto da vida – como se diz no popular.

Partimos para o terceiro capítulo. No tempo que aguardamos para uma “carga” da bateria, o jovem vigilante da Igreja Adventista conta que sonha em morar no exterior. Talvez Portugal ou Estados Unidos. Quer apenas trabalhar no estrangeiro. Estamos na entrada do templo que fica ao lado da avenida que, finalmente, começa a esvaziar.

Ligamos o pisca-alerta, desviamos do trajeto principal e seguimos pra casa. Eu e meu filho estamos felizes.

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