A lenta e gradual desidratação de Bolsonaro

Presidente Jair Bolsonaro
Bolsonaro vai prestar novo depoimento à Polícia FederalArquivo/Agência Brasil
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Texto de André César

O que era apontado como quase certeza no início do ano hoje não é mais – o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pode não ser um candidato competitivo nas eleições do próximo ano. Graves problemas na economia e na política e a piora na pandemia justificam a revisão das análises. A mais recente pesquisa XP/Ipespe reforça essa percepção.

O levantamento, realizado entre 29 e 31 de março, confirma a tendência de queda do apoio popular ao titular do Planalto. A avaliação negativa subiu três pontos percentuais em relação ao levantamento anterior, passando a 48%. Por outro lado, aqueles que avaliam positivamente o governo recuaram três pontos e agora estão em 27%.

Em comparação com outubro do ano passado, Bolsonaro tinha 39% de aprovação e 31% de rejeição. No jargão das pesquisas de opinião pública, “o jacaré (definitivamente) abriu a boca”.

Como consequência direta da queda na avaliação geral do presidente, as simulações eleitorais revelam a fragilidade, hoje, de sua recandidatura. Pela primeira vez ele aparece atrás do ex-presidente Lula no primeiro turno (29% a 28%) e, em disputas de segundo, perde para o petista (42% a 38%) e empata com o neopedetista Ciro Gomes (38% para ambos) e com o ex-ministro Sérgio Moro (30% cada). A situação de Bolsonaro não é confortável.

Outro ponto interessante do levantamento diz respeito à avaliação de personalidades da política. Nesse quesito, a média das notas dadas pelos entrevistados a nomes ligados ao governo, como o vice-presidente Hamilton Mourão e o ministro da Economia, Paulo Guedes, caiu. Por outro lado, melhorou a avaliação do ex-presidente Lula, agora tecnicamente um potencial adversário de Bolsonaro.

O mundo político real reflete bem o quadro apontado pela pesquisa. O Centrão já questiona abertamente algumas decisões e posições do presidente e o bloco, há pouco um fiel aliado, hoje apresenta fissuras no apoio ao Planalto.

Outros partidos que estavam divididos com relação ao posicionamento frente ao governo, como o PSDB e o DEM, aceleraram seus movimentos em direção a uma oposição mais efetiva. O governador tucano João Dória, desafeto de Bolsonaro, pode assim começar a recuperar parte da credibilidade perdida junto a seus correligionários.

Enfim, o presidente atravessa tempos turbulentos. Uma revisão radical de rota se faz necessária, sob risco de debacle total. O processo de desidratação de Bolsonaro segue seu curso.

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