Na cena política brasileira, ao longo dos últimos meses a chamada ‘terceira via’ praticou seu ‘resta um’
Texto de André César
Você certamente já brincou de ‘resta um’. Trata-se de um jogo de tabuleiro com 32 peças. Escolha uma para começar – a escolhida deve saltar sobre outra peça, fazendo movimentos na horizontal ou na vertical, e deve chegar a um espaço vazio. A peça que foi pulada sai do jogo. Só é possível retirar uma peça por vez. O jogo termina quando restar somente uma peça ou não for possível fazer movimentos.
Na cena política brasileira, ao longo dos últimos meses a chamada ‘terceira via’ praticou seu ‘resta um’. No início da peleja o bloco apresentava muitos nomes, com diferentes perfis. Luciano Huck, Luiz Henrique Mandetta, Alessandro Vieira, João Amoêdo, Rodrigo Pacheco, Sérgio Moro, Eduardo Leite, João Dória ficaram pelo caminho. Aparentemente, restou Simone Tebet no tabuleiro.
A candidatura presidencial da senadora do MDB de Mato Grosso do Sul, caso confirmada, enfrentará desafios de monta e, a princípio, são remotíssimas as chances de que ameace os principais concorrentes – o ex-presidente Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL).
Com desempenho sofrível nas pesquisas de intenção de voto (na faixa de 2%), a parlamentar precisa imediatamente tornar-se conhecida pelo eleitor. Mais ainda, sua candidatura terá de ter um rosto e passar uma mensagem forte. Do contrário, será apenas mais uma figurante na disputa.
Os obstáculos estão à vista de todos. O primeiro está em seu próprio partido. Historicamente, o MDB não embarcou em suas próprias candidaturas ao Planalto – Ulysses Guimarães em 1989, Orestes Quércia em 1994 e Henrique Meirelles em 2018 tiveram votações inexpressivas.
Hoje, a situação tende a se repetir. As lideranças partidárias das regiões Norte e Nordeste tendem a apoiar Lula, enquanto o Centro-Sul flerta com o atual mandatário. O risco de cristianização da candidatura de Tebet é real.
Além disso, não se sabe qual o nível de comprometimento do PSDB e do Cidadania, os outros integrantes da terceira via, com a candidatura da emedebista. Dividido, o tucanato pensa mais na própria sobrevivência. O partido concentrará energia e recursos na disputa pelo Congresso Nacional, deixando a sucessão presidencial em segundo plano. Já o Cidadania é uma legenda de pequeno porte e pouco agregará à senadora. Tebet, no limite, estará sozinha.
A rigor, o processo que desaguou no nome da parlamentar foi uma competição de egos e projetos pessoais, nada mais. Em momento algum foi esboçado pelos contendores propostas nas áreas econômica, social ou ambiental, para ficar no básico. Um grande vazio.
Ao fim e ao cabo, o jogo do ‘resta um’ da terceira via poderá terminar com um novo nome – o jogo do ‘resta nenhum’, com todos derrotados. Um encerramento melancólico para um projeto que se anunciava redentor para o Brasil.