Geopolítica e esporte

Olimpíada Paris 2024 *00 metros rasos Misto Brasil
Keely Hodgkinson, uma britânica branca, ganhou o ouro na corrida de 800m/Reprodução/X

Em tempos de Olimpíadas (e com duas guerras em curso simultaneamente, mas esse é outro assunto), isso ganha peso renovado

Por André César – SP

Em linhas gerais, geopolítica é um ramo do conhecimento humano que aborda a relação entre a geografia, acontecimentos históricos e políticos, com o objetivo de interpretar fenômenos globais. Para isso, a área estuda temas como guerras, movimentos migratórios e acordos de todo tipo entre países.

Nesse sentido, o esporte pode ser mais um elemento a constar do “cardápio” da geopolítica. Em tempos de Olimpíadas (e com duas guerras em curso simultaneamente, mas esse é outro assunto), isso ganha peso renovado. Não se trata propriamente de uma novidade, mas a questão ganha força em momentos como esse.

Lembremos o período da Guerra Fria. Dos anos 50 até o início da década de 90 do século passado, Estados Unidos e União Soviética tiveram no esporte um território a vencer o adversário (o “inimigo”) e passar ao mundo sua superioridade técnica, moral e ideológica. Os jogos olímpicos, realizados a cada quatro anos, representavam o ápice dessa situação.

A disputa pela liderança no quadro de medalhas, assim, sempre teve contornos que transcendem a simples disputa esportiva. Mais do que ficar à frente dos demais países, vencer significa mostrar a todos que o modelo adotado por essa sociedade é o mais próximo da “perfeição” – seja lá o que isso signifique.

A história nos apresenta exemplos interessantes. Nos jogos de Munique, em 1972 – mais lembrados pela tragédia com os atletas israelenses -, a final de basquete entre norte-americanos e soviéticos virou uma batalha épica, com a inédita vitória desses últimos ao final, em uma partida inesquecível (no YouTube há vídeos com o jogo).

Também ocorreram os famosos “boicotes olímpicos”. Nas Olimpíadas de Moscou, em 1980, Estados Unidos e alguns aliados deixaram de comparecer em protesto contra a invasão soviética ao Afeganistão. Nada que afetasse fortemente o projeto das lideranças russas, que tinham no carismático ursinho Misha (quem viveu naquela época lembra) o símbolo máximo.

A resposta soviética veio quatro anos depois, em 1984, com a não presença nos jogos de Los Angeles. Do leste europeu, apenas a antiga Iugoslávia (não alinhada a Moscou) “bateu ponto” na terra do Tio Sam. Esse boicote, a exemplo de 1980, não tirou o brilho das disputas.

Hoje, após o fim da União Soviética e em pleno século XXI, o embate se dá entre Estados Unidos e China. Faltando poucos dias para o encerramento dos jogos em Paris, os norte-americanos estão pouco à frente dos chineses no quadro de medalhas (27 a 25 ouros, manhã de quinta-feira), mostrando que a história é a mesma, apenas com novos atores no palco.

Enfim, o embate esportivo-ideológico é um tema fascinante. Em tempos de conflitos armados que assustam o planeta, é maravilhoso imaginar que todas as divergências entre os povos poderiam ser discutidas apenas em estádios, arenas, quadras, tatames…

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