Exportação de gado em pé está em expansão

Nelore principal raça de corte gado Misto Brasil
O Nelore é a principal raça de corte no Brasil, dominando 80% do rebanho/Arquivo/Boi Saúde
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Nos últimos 20 anos, mais de 8,8 milhões de animais vivos foram exportados. No ano passado o setor bateu recorde

Por Misto Brasil – DF

O gado geralmente é transportado das fazendas até os frigoríficos, onde é abatido. Mas, em 2024, pouco mais de 1 milhão de bois, vacas e bezerros brasileiros tiveram outro destino.

Embarcados em navios, cruzaram oceanos, muitas vezes cobertos de fezes e urina, até serem mortos no exterior – a maioria com a garganta cortada enquanto ainda estavam conscientes.

A exportação de animais vivos, também conhecida como exportação de gado em pé, vem sendo proibida ou limitada em alguns países. No ano passado, o Reino Unido aprovou uma lei proibindo o negócio, seguindo o exemplo da Nova Zelândia. Austrália e Alemanha também impuseram restrições.

No Brasil, a atividade está em expansão. Nos últimos 20 anos, mais de 8,8 milhões de animais vivos foram exportados, de acordo com a reportagem da Agência DW.

Em 2024, o setor bateu recorde: mais de 1 milhão de bovinos — entre bois, vacas e bezerros — foram embarcados para países como Turquia, Egito e Iraque, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX). O volume representa um aumento de mais de 40% em relação a 2023.

Parte desses animais estava a bordo do Al Kuwait. Uma investigação da ONG Repórter Brasil mostrou que, em fevereiro de 2024, o navio tinha saído do Rio Grande do Sul rumo ao Iraque, mas precisou parar na África do Sul, onde virou notícia internacional.

“Cidade do Cabo é atingida por odor ‘inimaginável’ de 19 mil cabeças de gado em navio de exportação de animais vivos”, noticiou o jornal inglês The Guardian.

Representantes do Conselho Nacional de Sociedades para a Prevenção da Crueldade contra Animais da África do Sul entraram na embarcação e encontraram bois mortos, doentes e cobertos de fezes. Classificaram a situação como “abominável”.

Apesar do crescimento, a exportação de animais vivos também enfrenta resistência no Brasil. Especialistas e ativistas tentam barrar a atividade por meio da Justiça e do Congresso, alegando maus-tratos aos animais, risco sanitário e poluição nos mares.

Antes mesmo desse episódio, em 2017, o Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal (FNPDA) havia entrado com uma ação na Justiça Federal de São Paulo contra a União para tentar proibir as exportações em todos os portos do país. A ONG sustentou que o transporte é realizado de modo cruel, assim como o abate a que são submetidos.

Um dos principais motivos para a importação de bovinos vivos é a forma do abate adotado nos países muçulmanos. No método Halal, o abatedor precisa ser muçulmano e cortar a garganta do animal com uma faca bem afiada – o bicho deve estar consciente. Por isso esses países compram o boi vivo, para garantir que este será morto da maneira que a religião preconiza.

Há pelo menos dois projetos no Congresso pedindo o fim da exportação de animais vivos. O projeto de lei (PL) 3.093, de 2021, é de autoria da Comissão de Direitos Humanos do Senado.

“Há constatações de superlotação, o que inflige desgaste físico e dor aos animais, e práticas de crueldade no trato em embarcações, ferindo a dignidade dos animais”, descreveu o senador Fabiano Contarato (PT-ES) em seu relatório.

O PL 521, de 2024, tramita na Câmara dos Deputados. “Atualmente, o transporte de animais por via marítima para exportação é uma prática que levanta sérias preocupações. O transporte inadequado, as condições insalubres e os espaços reduzidos constituem maus-tratos evidentes”, justificou o autor do projeto, deputado Célio Studart (PSD-CE).

Em agosto de 2024, a jornalista e ativista de direitos dos animais Janine Koneski de Abreu entregou uma carta ao presidente Lula da Silva pedindo o fim da exportação de animais vivos. Apresentou pareceres de especialistas, anexou fotos e relembrou da história do boi Elias, ocorrida em 2018.

“Não é incomum que alguns destes bois se atirem ao mar, tentando fugir da escolha feita para eles. A história do boi Elias, que se lançou ao mar da embarcação e nadou por 5 horas em São Sebastião (SP), tocou tantas pessoas em todo o país que virou um documentário, assistido por mais de 20 mil pessoas em menos de um ano”, afirmou.

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